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A arte do politicamente incorreto
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Divulgação
Cohen: na pele de Borat

Publicado na coluna Conexão Brasília, na edição impressa da Gazeta do Povo:

No filme Borat, o ator inglês Sacha Baron Cohen ganhou os cinemas de todo o mundo com sátiras pesadas sobre sexua­­­lidade, religião e raça. O sucesso o levou a descer o nível mais um pouquinho em Brüno, que conta a história de um gay que faz de tudo para virar celebridade no mundo fashion. Alguns riem, outros acham as piadas de mau gosto, mas o fato é que o britânico já se prepara para um novo personagem que deve despontar no ano que vem.

Baron Cohen é a síntese do que é ser politicamente incorreto na atualidade. Sem qualquer pudor, ele mexe com uma trinca de assuntos que poucos ousam falar em público, mas que rendem gargalhadas em ambientes particulares. Um tipo de humor que também tem espaço cativo no Brasil.

Em julho, o repórter/comediante do programa CQC, Danilo Gentili, criou polêmica no Twitter ao fazer piada sobre o filme King Kong: “(…) um macaco que depois que vai para a cidade e fica famoso pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?” O comentário rendeu uma avalanche de protestos e acabou em um desabafo de Gentili. Para ele, o politicamente correto está tornando as pessoas “idiotas”.

Em outras palavras, há gente que radicaliza as opiniões ao invés de refletir sobre a verdadeira graça da brincadeira.

Ao associar o câncer de ma­­­ma a homens gays na semana passada, o governador Roberto Requião disse ter usado o mesmo tipo de recurso “lúdico”. Segundo ele, não havia qualquer intenção perversa na declaração. Pode até ser verdade, mas há uma diferença enorme entre Baron Cohen, Gentili e Requião: os dois primeiros são humoristas, enquanto o último administra um estado com 10 milhões de habitantes, uma das maiores economias do Brasil.

É só prestar atenção no termo politicamente correto. Trata-se justamente de fazer política, ou seja, buscar a confiança e o bem-estar da maioria. Não que as pessoas queiram governantes insossos, vaquinhas de presépio, mas eles precisam ter o mínimo de bom-senso.

O ex-prefeito de Curitiba, Maurício Fruet, falecido em 1998, era conhecido no Brasil inteiro pelo bom humor, mas nunca perdeu a linha. Há poucos dias Lula deslizou na religião ao tentar conciliar Jesus Cristo e Judas para explicar as alianças esdrúxulas da política brasileira, mas no geral é um brincalhão de sucesso. Os dois são provas de que ser engraçado na política não é pecado, muito pelo contrário.

Uma das cláusulas pétreas do marketing político diz que o candidato incapaz de contar uma piada é também incapaz de ganhar uma eleição. O problema é que o humor é uma coisa bem mais complicada do que se imagina. Todos nós nos achamos divertidões com nossas tiradas, mas a verdade é que o humor varia de pessoa para pessoa.

Por isso não há nada de errado nos comediantes que recorrem ao politicamente incorreto. Há quem goste, há quem ache uma enorme porcaria. A diferença é que você pode simplesmente trocar de canal quando eles aparecem na televisão. Já os políticos eleitos você é obrigado a aturar por pelo menos quatro anos. Mesmo que sequer tenha votado neles. Mesmo que eles notoriamente já não tenham a menor graça.

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