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A recessão será longa
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Mauricio Lima/AFP
Após o turbilhão da crise, parece que infelizmente não há bonança.

Por Guido Orgis, repórter de Economia da Gazeta do Povo. Vale (muito) a pena ler, para entender o que vem depois da marolinha

Estava na cara desde o primeiro semestre, mas só na semana passada a segunda palavra mais temida no vocabulário econômico ganhou o peso merecido no noticiário. Recessão. Isso porque ela não faz mais parte das apostas estatísticas de analistas – que diziam no começo do ano que a chance de haver recessão nos Estados Unidos era de 50%, ou 60%. Agora é de 100%. Reino Unido, França, Japão e Alemanha, para ficar no grosso do mundo rico, estão na mesma direção.

A palavra mais temida? Desemprego. Está subindo, e rápido, nos EUA, Reino Unido e Espanha. Já está alto no resto da Europa ocidental. Desemprego em alta significa que salários tendem a cair, atingindo em cheio o consumo. Uma recessão é ruim, mas fica pior quando o desemprego dispara porque o tempo de correção de preços dentro da economia é mais longo.

Como funciona? Em tempos de boom, ou bolhas, os preços na economia tendem a subir, refletindo a maior demanda. Os salários sobem porque há menos desemprego (logo, fica mais caro contratar mão-de-obra). Em um determinado momento, nota-se que os retornos na economia estão ficando mais lentos ou até ameaçados, como no caso do setor imobiliário americano. Os preços inflados durante a fase de crescimento precisam cair, incluindo salários. As pessoas deixam de comprar porque estão endividadas demais ou porque têm menos renda (aqui entra o desemprego).

Isso leva a uma segunda onda de correção. Quando tudo dá certo, os bancos centrais evitam uma terceira onda. O Japão não conseguiu isso nos anos 90. Nem os EUA na década de 30.

Pela extensão do estrago no setor bancário do mundo rico, parece que essa espiral de desinflação será longa. Os preços dos imóveis no EUA continuam caindo. O consumo se retrai como não ocorre desde o choque do petróleo, nos anos 70. Investimentos tendem a ficar parados por dois ou três trimestres até que a confiança volte. A população americana terá de fazer um esforço enorme de poupança para colocar as contas em ordem.

Quanto tempo? O suficiente para que reformas sejam necessárias nos emergentes. No Brasil, dependemos menos das exportações para crescer e o ciclo recente de formalização e melhora na distribuição de renda apresenta uma combinação de fatores que poderia sustentar um crescimento digno, abaixo dos 5% dos últimos três anos e acima dos 2% do início da década. Duas sugestões para aumentar o consumo interno: reformas trabalhista e tributária. Impostos mais justos e custo menor para empregos formais dariam mais confiança e reduziriam o custo para que as classes D e E continuem entrando no mundo do consumo. E para isso o governo nem precisa comprar bancos e empresas quebradas.

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