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Brasília foi construída em uma região distante, seca, para não dizer inóspita mesmo. O “quadradinho” dentro de Goiás tem pouco a ver com o resto do país. Assim como a grande maioria das crises políticas forjadas na capital.

Enquanto a base aliada no Congresso Nacional se amotina contra a presidente Dilma Rousseff pela liberação de cargos, emendas parlamentares e outras benesses, as pessoas do mundo real (aquele bem longe da Praça dos Três Poderes) estão mais preocupadas com os problemas do mundo real. Querem saber se a comida está mais cara, se a criminalidade aumentou ou se o trânsito vai dar uma trégua.

As picuinhas do jogo político ficam para uns poucos aficionados. O problema é quando elas extrapolam as fronteiras do Distrito Federal. É o que parece estar prestes a acontecer.

Dilma não teve vida fácil nos primeiros sete meses de governo. Quanto mais jogou pesado com os parceiros interesseiros, mais gerou instabilidade. Seria uma batalha com alguma chance de ser vencida, não fosse pelo risco de uma crise real.
Os imbróglios financeiros dos Estados Unidos já estão atingindo o mundo inteiro.

A presidente está certa em adotar um discurso otimista de que o Brasil está preparado para o impacto, mas a tarefa não será fácil. O mais indicado em um momento como esse seria a coesão política interna.
Os tais “aliados”, no entanto, parecem preferir outra cartilha. Usam o clima de receio para pressionar, chantagear. Na última quarta-feira, por exemplo, fizeram uma espécie de greve e não votaram nada na Câmara.

Enquanto as bolsas derretiam pelo mundo afora (em especial a Bovespa), Dilma teve de gastar tempo e saliva afagando os congressistas. Pior, precisou montar uma operação que envolveu o vice Michel Temer e o ex-presidente Lula. A cada oportunidade em que ela precisa desse tipo de auxílio externo, a situação piora.

Aumenta o burburinho de bastidores de que Dilma é despreparada para a negociação, que nunca vai adquirir jogo de cintura. Obviamente, a presidente não tem o carisma de um Winston Churchill. Mas a verdade é que nem com muito conhaque e charuto Churchill teria estômago para lidar com os coronéis da política brasileira.

Com a turbulência econômica que se avizinha, é prudente que ela feche a torneira dos gastos. Só que do outro lado as excelências querem suas emendas executadas (e para ontem). Mesmo que essas mesmas emendas tenham virado destaque no noticiário policial – vide a prisão de 36 pessoas durante a Operação Voucher no Ministério do Turismo.

Seria muito bom poder dizer que é só uma fase, que as coisas vão se assentar em nome do bem comum. Não vão. O primeiro sinal ruim é que Dilma encerrou a semana passada anunciando que as despesas da União de 2012 ficarão congeladas.

O recado foi dado no momento em que o Legislativo guarda na manga a votação de projetos que seguem o caminho contrário, como a emenda constitucional que cria o piso salarial nacional dos policiais. É aí que a crise do mundo da política pode se chocar com a do mundo real. Vem um tranco violento pela frente.

Às pessoas do mundo real, fica a dica: apertem os cintos. Nesses momentos, todos nós sabemos em quem a pancada dói mais.

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