Em 1989, eu tinha dez anos e morava na Vila Oficinas, em Curitiba. Lembro bem de como eu e os outros moleques do bairro acompanhávamos a eleição presidencial. Era como torcer para um time de futebol, com o bônus de conseguirmos bugigangas dos candidatos – bonés, adesivos e, principalmente, camisetas.
Não preciso ficar aqui explicando que a Vila Oficinas ainda é um lugar humilde. O papo é o seguinte: eu e 90% das crianças gostávamos mesmo era do Collor. Hoje reflito por quê: a propaganda dele colava mais na gente e, além disso, havia uma rede de boatos da grossa contra Lula e o PT.
Recordo de quando um amigo meu, filho de um ferroviário da velha RFFSA, começou a contar histórias que tinha ouvido da mãe dele sobre os petistas. “Esses caras vão dividir as nossas casas e colocar o pessoal da favela para morar junto com a gente.”
Claro que se o Lula fosse dividir a minha casa estava ferrado, porque lá já moravam eu, meus pais e mais quatro irmãos, uma cunhada e um sobrinho. Depois, vieram papos mais estranhos: “eles roubam piás da nossa idade de casa para distribuir panfleto para eles”.
Pronto, para qualquer menino de bairro estava tudo explicado: os petistas comiam mesmo criancinhas. Por isso, todos nós precisávamos nos unir em torno do super-herói collorido.
Anos se passaram, o PT está há três mandatos seguidos no poder e, até agora, não há notícias de criancinhas devoradas, nem de casas repartidas pelo Brasil afora. Por outro lado, houve o mensalão, que envolveu muito mais dinheiro que a Fiat Elba que derrubou o Collor.
Mas não é bem o mensalão que acaba de entrar na campanha municipal de Curitiba. Desde ontem, a propaganda de Ratinho Júnior (PSC) resgatou a tática já usada por Luciano Ducci no primeiro turno de dizer que os curitibanos não querem o PT, atual aliado de Gustavo Fruet (PDT).
Veja o que diz a propaganda de Ratinho Júnior:
“Primeiro o PT tentou ganhar a prefeitura com o Vanhoni. Tentou uma vez, tentou outra, não funcionou. Aí depois eles tentaram de novo, desta vez com a Gleisi. Também não deu certo. Agora, o PT adotou uma tática diferente, e veio junto com Gustavo Fruet. Funciona assim: Gustavo vai na frente e o PT vem logo atrás, escondidinho. Sabe como é que é? Será que desta vez eles conseguem? Acho que não, hein. O curitibano não vai deixar”.
O curioso é que o próprio Ratinho tem petistas na cúpula da campanha e sempre cita que é aliado do governo Dilma Rousseff e amigo de Lula.
Soa estranho. Uma coisa é bater no PT por problemas de gestão, pelos escândalos de corrupção, outra é remeter à velha imagem do preconceito contra o partido.
Até pela lembrança de que, bem antes dos petistas, os acusados de comer criancinhas eram os comunistas. E o PCdoB está coligado com Ratinho…
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