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Já dizia aquela propaganda que há coisas que o dinheiro não paga, enquanto para todas as outras você pode usar o cartão de crédito. A sacada publicitária é genial, atinge todos os públicos. Mas no mundo dantesco da política brasileira o conceito gera uma confusão danada.

Existem mesmo oportunidades e experiências de vida que só parlamentares, prefeitos, governadores e presidentes conseguem ter. Viagens para o exterior em primeira classe, jantares nababescos, recepções ultravips – tudo grátis e com bajulação dobrada. Escrevi “grátis”, porém sabemos que não é bem assim que a banda toca nesse ramo de atividade.

Tudo na política tem um preço – e normalmente ele é salgado. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), está pagando pelo glamour dos tours que fez em 2009 por Paris e Monaco na companhia do empresário Fernando Cavendish, presidente licenciado da construtora Delta. A empresa, investigada pelo vínculo com o grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, tem uma série de contratos públicos e fazia parte, por exemplo, do consórcio que participa da reforma do Maracanã.

Nas fotos da viagem, divulgadas pelo desafeto de Cabral Anthony Garotinho, vê-se um clima festivo, regado a champanhe. De acordo com a assessoria do governador, as imagens da França foram feitas durante uma visita oficial pela candidatura da cidade do Rio de Janeiro à Olimpíada de 2016, na qual ele também recebeu uma condecoração do Senado Francês. Já a passagem por Monte Carlo teria sido custeada pelo próprio Cabral.

Puritanismos à parte, é justo que qualquer pessoa tenha momentos de lazer. Não é bem a descontração do governador que choca, nem a ostentação, mas a pulga atrás da orelha sobre quem está pagando a conta.

Afinal, desde que Cabral assumiu o cargo, em 2007, os repasses à Delta triplicaram em relação aos cinco anos anteriores e atingiram R$ 1,16 bilhão.

Também é falso achar que se trata de um caso isolado. Políticos são bem pagos pelo que fazem, mas ainda assim o salário não justifica tanta sede pelo poder. Ao longo de um mandato de quatro anos, por exemplo, cada deputado federal recebe 60 salários de R$ 26,7 mil brutos, o que dá um total de R$ 1,6 milhão. A título de comparação, só os 30 paranaenses eleitos em 2010 fizeram juntos autodoações que chegaram a R$ 7,3 milhões.

Trocando em miúdos, eles “investiram” nas próprias campanhas, como pessoas físicas, um valor que pagaria o salário integral de 4,5 congressistas ao longo de um mandato. Só Edmar Arruda (PSC) tirou do bolso R$ 2,9 milhões para fazer campanha, 50% a mais do que tudo aquilo que vai receber como remuneração da Câmara até 2014.

Será que todo esse esforço financeiro vale a pena? Novamente, é injusto tratar como um caso isolado. E os vereadores de Curitiba que eram beneficiários de contratos de publicidade sob suspeita: será que só o salário não deveria ser suficiente para eles?

No fundo, gastamos muita energia criticando as benesses legais, como a remuneração formal das excelências, e deixamos de lado a fiscalização de aspectos óbvios como as ligações perigosas dos políticos com pessoas interessadas em contratos públicos. São contas e correlações que normalmente não fecham.

Coisas que, numa paródia àquela propaganda, é sempre o seu dinheiro que acaba pagando.

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