Há certos aspectos intangíveis que definem a imagem que as pessoas constroem de uma cidade. Paris é romântica, Londres é descolada, Rio é praia, Salvador é festa e São Paulo é trabalho. Curitiba? Curitiba é certinha.
Não dá para explicar direito o que leva a essas percepções, nem atestar que elas são 100% verossímeis. É um mito que gravita em torno de cada lugar, construído muito mais pelos olhos de quem vê de fora. Quem observa hoje a preparação das 12 sub-sedes brasileiras para a Copa do Mundo vê uma Curitiba desmitificada.
A mera possibilidade de ser convidada a se retirar do evento a menos de seis meses do primeiro jogo é uma facada na imagem da cidade. Logo Curitiba? Afinal, não era a capital paranaense referência em obras planejamento urbano, no transporte público e até um raro polo futebolístico fora do eixo RJ-SP-RS-MG?
Interessante ver a história do começo. Imagine que você é um figurão da Fifa e vai escolher os locais para a Copa no Brasil. Ninguém vai pressioná-lo com politicagens, a seleção é técnica.
Na pior das hipóteses, Curitiba estaria entre quinto e sétimo lugar dessa lista. Por critérios esportivos, os três clubes de futebol da cidade somam dois títulos brasileiros da série A e cinco da B. Pode parecer pouco, mas a adição das conquistas expressivas dos times de Brasília, Cuiabá, Fortaleza, Manaus e Natal é algo entre zero e menos um.
Comparações socioeconômicas são ainda mais favoráveis. No ranking de capitais, Curitiba tem o quarto maior Produto Interno Bruto, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Na lista do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, é a quarta capital com melhor desempenho – só perde para Florianópolis, Vitória e Brasília (as duas primeiras não vão receber partidas da Copa).
Chacoalhe todas essas informações, mais o fato de que a Arena era o estádio mais moderno do país em 2008 (além de parecer estar semipronta), e o produto final será o seguinte: Curitiba não poderia ter ficado de fora. Começar a preparação com todos esses aspectos favoráveis era uma vantagem enorme em relação à maioria das demais concorrentes. As coisas deram errado daí para frente.
Em primeiro lugar, porque era falsa a ideia de que a Arena estava quase no ponto do famigerado padrão Fifa. Em segundo, porque a engenharia financeira para o aporte de dinheiro público em uma obra privada (mesmo que por empréstimo) foi a mais bizarra possível. Terceiro: os políticos deram mais atenção a megaprojetos, como o metrô, do que a soluções pontuais que poderiam ter sido muito mais eficazes como legado da Copa para os curitibanos.
O diagnóstico final, no entanto, é de uma enorme incapacidade de planejamento. Duas diferentes gestões na prefeitura e governo do estado tiveram cinco anos para colocar em prática o que foi compromissado. E o que ficou pronto superou muito as estimativas de preço iniciais: as obras da Avenida das Torres subiram dez vezes (de R$ 12,7 milhões a R$ 127,7 milhões, graças à inclusão do excêntrico viaduto estaiado).
Em meia década, Curitiba passou de certinha a atrasadinha. Ainda dá tempo de recolocar o passo no lugar, mas nada indica que isso será antes da Copa.
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