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Depois do cara, a coroa
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AFP
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, comemora com o presidente Lula sua pré-candidatura à presidência pelo PT, em Brasília

Fiquei impressionado quando virei a cabeça e vi que a moça ao meu lado, uma companheira de carteirinha, estava chorando. Olhei para trás e percebi que ela não era a única, havia um monte de gente emocionada. Estava difícil para os petistas se segurar após uma sessão intensa de filmes, músicas, imagens muito bem produzidos sobre a história dos 30 anos do partido.

Era o desfecho do 4º Congresso Nacional do PT, no último sábado. O cardápio do dia estava calibrado para levar os 1,3 mil presentes às lágrimas. Havia um ar de celebração pela aprovação popular da gestão petista, combinado com uma certa nostalgia pela despedida de Lula e pela esperança de continuação no poder com Dilma Rousseff.

Sim, os companheiros sabem como organizar um evento desses, dominam o jogo de marketing interno (e externo). Também são disciplinados e ao mesmo tempo calorosos. E apesar das 16 distintas correntes ideológicas, têm noção de quando é o momento de quebrar o pau e quando é hora de mostrar unidade.

Muito diferente de uma reunião de qualquer outro partido. Duas semanas antes, quando o PMDB se reuniu para eleger a nova executiva nacional, também em Brasília, o que se viu foi um evento esvaziado, burocrático. Um jogo de cena para reconduzir a turma de Michel Temer ao comando, com uma plateia seis vezes menor.

Pois sábado passado era dia de os petistas jogarem juntos. Tanto que chamaram até o próprio Temer para sentir o peso do congresso. O peemedebista pensou bastante antes de aceitar o convite, com meio de vaias que não vieram.

Só houve três discursos, intercalados por excelentes jingles de campanha pró-Dilma. A música mais bacana, ao ritmo sertanejo, resume o que vai ser o lema da ministra nos próximos meses:

Vem Dilma, vem
Levar esse novo Brasil muito mais à frente
Fazer como Lula fez o povo mais contente.
Vem Dilma, vem
Mostrar o que você aprendeu com esse cara valente
Vem continuar essa história, vem cuidar da gente.

Primeiro falou o presidente do partido, José Eduardo Dutra, apenas para defender-se de alguns pontos polêmicos. Negou que Dilma esteja mais à esquerda de Lula, disse que o interesse de aliar-se ao PMDB está “cristalino” nas resoluções aprovadas na convenção – mesmo sem a citação textual do partido.

Depois foi a vez de Lula. Deixá-lo solto para falar entre velhos amigos é como oferecer banana para macaco. De improviso, como quase sempre faz, o presidente apresentou um histórico sobre a própria gestão e fez um emocionante resgate da trajetória política de Dilma.

Esquentou a plateia para o que deveria ser o desfecho perfeito – o momento em que a própria Dilma falaria oficialmente pela primeira vez como pré-candidata. Não deu certo. Foi de dar sono ouvir a ministra ler no teleprompter por uma hora as mesmas informações transmitidas por Lula instantes antes com bem mais traquejo.

Ficou a impressão de que o PT está organizado para atropelar a oposição na campanha, mas que o partido e principalmente Lula vão ter mesmo de carregar Dilma nas costas. Isso não quer dizer que a ministra não tenha qualidades para administrar o país ou que não será uma boa presidenta. Mas que falta carisma, falta.

Sorte dela e dos petistas que o tucano José Serra também está bem longe de enfeitiçar as pessoas pela sua empatia. A aposta boa mesmo para a ministra está em outro jingle, cantado com empenho pelos militantes ao final do congresso petista:

Depois do cara, a gente vota na coroa
A gente quer, é gente boa

Definitivamente: sem o “cara” vai ficar difícil.

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