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As pegadas do grupo de Carlinhos Cachoeira no Paraná estão mais confundindo do que servindo como pistas para os políticos locais. Saber se Roberto Requião (PMDB) ou Beto Richa (PSDB) receberam o bicheiro ou algum representante dele nos últimos anos não diz muita coisa sobre o assunto. O que importa é o que teria acontecido depois dessas supostas reuniões.

Ao primeiro caso. Requião admitiu ter sido visitado por Cachoeira em seu gabinete durante o primeiro mandato como senador (1995-2002). Vale lembrar que, na época, o bicheiro era um homem livre.

A ilegalidade teria ocorrido se o senador tivesse se comprometido com ele de alguma forma – e que por causa disso recebesse algum benefício espúrio em troca. Era o que acontecia, por exemplo, na relação entre o senador Demóstenes Torres e Cachoeira. Segundo o inquérito da operação Monte Carlo, Demóstenes teria recebido dinheiro e presentes do amigo em contrapartida do engajamento do senador em temas do bicheiro no Congresso.

Não há qualquer indício de que isso tenha acontecido com Requião. Outra hipótese ventilada por Richa e aliados na semana passada é que, na verdade, o encontro entre os dois teria ocorrido na no Palácio Iguaçu, em janeiro de 2003, primeiro mês do segundo mandato de Requião como governador. Essa situação, sim, pode ser mais complicada.

Na época, o governo do estado tinha um contrato com a Larami Diversões e Entretenimento LTDA, empresa que ainda hoje mantém Cachoeira como administrador. O acordo, firmado em 2001 durante a gestão Jaime Lerner, envolvia a operação dos caça-níqueis on-line do Serviço de Loterias do Paraná (Serlopar), então uma autarquia estadual vinculada à Casa Civil.

De cara, a licitação vencida pela Larami foi cercada de denúncias de irregularidades.

O fato é que Requião herdou o pepino, mas só o resolveu de fato após 16 meses de mandato (em abril de 2004), quando rompeu por decreto o contrato com a Larami. Por enquanto, fica difícil ligar um fato a outro, já que Requião nega o encontro com Cachoeira como governador e os tucanos não apresentaram provas concretas de que isso tenha acontecido.

Do outro lado, Richa é citado em e-mails interceptados pela Polícia Federal nas quais o ex-cunhado de Cachoeira Adriano Aprigio de Souza pergunta ao argentino Roberto Coppola, sócio da Larami, “como foi” o encontro com o “governador eleito”. A correspondência é do dia 5 de outubro de 2010. Richa nega qualquer encontro com qualquer pessoa ligada ao grupo de Cachoeira.

Além de também não haver provas de que isso tenha acontecido, não houve movimentações do atual governador para favorecer os bicheiros. Seria estranho, por exemplo, se ele tivesse reativado o Serlopar, extinto desde 2007 – o que não aconteceu.

Enquanto discute-se sobre os tais encontros da maneira mais paroquial possível, os políticos locais perdem a chance de esclarecer os fatos que realmente importam. De onde vinham os problemas da Larami no começo da década passada? E quais são as ligações que de fato permanecem do grupo de Cachoeira no Paraná?

Fica a dica: em 2004, o Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos da Polícia Civil do Paraná fez uma investigação completa sobre esse mesmíssimo assunto. Por que ela não deu em nada talvez seja a primeira pergunta que precisa de resposta.

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