Lula está fora do Palácio do Planalto, mas não engavetou os planos de “extirpar” a oposição. É o que deixou claro na entrevista à TV dos Trabalhadores na semana passada. “O PT precisa juntar todos os diferentes para que a gente possa vencer os antagônicos”, disse.
Antes, em reuniões preparatórias do partido para as eleições municipais de 2012 em São Paulo, apontou que o caminho para retomar a hegemonia no estado é agregar malufistas e focar a campanha na classe C.
A segunda parte é curiosamente o que também tem sido defendido por Fernando Henrique Cardoso como norte para o PSDB.
Lula, aliás, declarou que os tucanos sofrem uma “crise de identidade”. “É um partido que não sabe se é PSDB, se é PMDB ou se é DEM. Ou seja, é um partido com muita dúvida.”
Pegou pesado? Talvez tenha sido apenas um golpe desproporcional. Por enquanto, a oposição tem se desmanchado por conta própria.
Após três derrotas consecutivas na disputa presidencial, é natural que os tucanos sofram uma crise de identidade. Adaptar-se aos novos tempos transformou-se em uma questão de sobrevivência.
No mesmo lado da trincheira, a situação do DEM é bem mais feia. A sigla foi esvaziada com a criação do Partido Social Democrático (PSD) de Gilberto Kassab e corre o risco de ser um satélite ainda mais periférico dos tucanos. Sem contar no PPS, que parece navegar inevitavelmente para o nanismo.
Lula tripudiou para valer ao falar que a “crise do PSDB é a crise da fragilidade ideológica”. Esqueceu-se de que tucanos e petistas mesclam-se em um exercício histórico de plágio entre si.
Ambos nasceram e cresceram no espectro da social-democracia. A diferença é que o PT solidificou-se como um partido de “massas” e o PSDB como legenda de “quadros”. Ideologicamente, não seria nada esdrúxulo se tivessem até se fundido no meio do caminho.
Aliás, tudo indicava uma aliança duradoura a partir do segundo turno das eleições de 1989, quando o tucano Mário Covas apoiou Lula contra Fernando Collor no segundo turno.
Então veio a eleição de 1994 e FHC (um “quadro” da esquerda intelectual) venceu Lula. Acabou-se a amizade. O PT passou oito anos na oposição a Fernando Henrique assimilando alguns ensinamentos do PSDB.
Em 2002, Lula escorou-se em um “quadro” da direita, o ex-vice-presidente José Alencar, para tornar-se presidente. No primeiro mandato, seguiu à risca a política econômica do PSDB. No segundo, graças à estabilidade que ajudou a construir, conseguiu distribuir renda e propagar a agora tão cobiçada classe C.
O resumo da ópera é que o PT só chegou e se manteve no poder porque soube evoluir. Há “fragilidade ideológica” nisso? Depende do ponto de vista.
Se for o dos adversários, é melhor ficar parado. Facilita a extirpação. Ou a eutanásia.
***
Siga o Conexão Brasília no Twitter!
Ex-desembargador afirma que Brasil pode “se transformar num narcoestado”
Contra “sentença” de precariedade, estados do Sul buscam protagonismo em negociação sobre ferrovia
Câmara de São Paulo aprova privatização da Sabesp com apoio da base aliada de Nunes
Lula afaga o MST e agro reage no Congresso; ouça o podcast
Deixe sua opinião