• Carregando...
Falas de Gleisi e Bolsonaro transformam o eleitor em ‘gentinha qualquer’
| Foto:

Gente, não vai ser fácil aguentar o tom do debate eleitoral. Começamos o ano com declarações antológicas que expõem as entranhas dos dois atuais favoritos na disputa presidencial. E que espelham o que eles, políticos envolvidos diretamente na batalha pelo poder desses dias insanos, pensam sobre essa gente, os eleitores.

Perguntado sobre como gastava o auxílio-moradia da Câmara dos Deputados, Jair Bolsonaro (PSC-RJ), disse que usava o dinheiro para “comer gente” (e, veja bem, não era canibalismo). Entrevistada sobre uma possível prisão de Lula, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, respondeu que para isso acontecer “vai ter que matar gente”.

LEIA MAIS: 8 pontos para entender a polêmica sobre os imóveis da família Bolsonaro

Não é a primeira vez que Bolsonaro flerta com deslizes de cunho sexual. A declaração de que a colega Maria do Rosário (PT-RS) “não merecia ser estuprada” rendeu um processo que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) e que pode tirá-lo da eleição. Nessa comparação, o “comer gente” é mais inofensivo juridicamente, mas tem o seu preço eleitoral.

A questão processual de Lula também tirou Gleisi do eixo. Falar em matar, dentro de um ambiente de conflagração como o atual, não só é ruim para a panela de pressão que virou o julgamento do dia 24, em Porto Alegre, como é nocivo para qualquer que seja o plano do PT. Conhecido como “zoador-mor” do petismo, o prefeito da capital gaúcha, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), jogou a isca do factoide ao pedir o Exército na segurança do julgamento – e Gleisi inacreditavelmente caiu.

A senadora justificou-se falando que o uso do “matar gente” era “força de expressão”. Bolsonaro, ao que consta, nem procurou uma desculpa. Alguns seguidores do deputado ainda vibraram com o tom da resposta, como se ela fosse necessária para colocar “essa gente” (nós, os jornalistas, ou quem ouse contrapor o mito) no seu devido lugar.

Mais do que a força do “comer” de Bolsonaro ou do “matar” de Gleisi, choca a escolha em comum do termo “gente”. Com nuances, a opção traduz frieza e objetificação no trato das outras pessoas, por mais próximas que essas outras pessoas possam ser. É “gente” (mártires?) da militância pró-Lula que a petista fala que pode morrer e é “gente” (não ficou ao certo nem de que gênero) descartável que podia ser comida por Bolsonaro.

LEIA MAIS: 3 nomes esperam ansiosamente pela derrocada de Lula e Bolsonaro

Mais “gente” de qualquer tipo pode sair em defesa de ambos os lados e falar que, em um momento político como o atual, é preciso gritar mais alto que os adversários para ser ouvido. Bizarramente, essa percepção de ódio mútuo vai aproximando cada vez mais as duas partes. Estamos seguindo cada vez mais para um debate acrítico, em que é necessário engolir cegamente o que meu time fala e não ser excluído.

E assim a política brasileira vai nos transformando em uma gentinha qualquer. Do tamanho do futuro que tudo isso reserva para o país.

***

Curta o Conexão Brasília no Facebook!

E siga o Conexão Brasília no Twitter!

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]