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O novo prefeito de Curitiba é um especialista na fiscalização do Poder Executivo. Ao longo de três mandatos como deputado federal, participou de seis CPIs, presidiu as investigações sobre o socorro aos bancos durante o governo Fernando Henrique Cardoso, foi sub-relator da comissão que desvendou o mensalão. A partir de 1º de janeiro, no entanto, Gustavo Fruet (PDT) vai deixar de ser pedra para virar vidraça.

Não será uma transição fácil. O pedetista é o primeiro prefeito eleito na cidade com discurso de oposição ao longo das últimas duas décadas. O eleitor espera por mudanças, mas ninguém sabe ao certo em quais proporções e em quanto tempo.

Inevitavelmente, Fruet sofrerá um choque inicial. A prefeitura tem uma burocracia que funciona bem, as contas em dia, capacidade de gerar e gerir novos projetos. O problema é que tanto tempo de continuidade no poder cria mofo e teias de aranha em qualquer estrutura pública.

A nova gestão terá de achar o meio termo entre preservar o que funciona e arejar o que precisa ser arejado. Tudo isso em um caldeirão de pressões internas e externas. Quem está no barco pedetista desde o começo da campanha quer manter o assento cativo e quem está de fora quer entrar e, de preferência, conseguir um lugar na janelinha.

Em primeiro lugar, a “aliança programática” com os petistas, como Fruet sempre fez questão de frisar ao longo da campanha, vai ser transformada em cargos. Também será natural abrir espaço para o outro sócio da coligação, o Partido Verde. A única dúvida está em quantos e quais postos ficam para cada um.

Ao todo, Curitiba tem 38 secretarias e órgãos que podem ser considerados de primeiro escalão. O ideal é que a grande maioria deles seja administrada por técnicos sem vinculação partidária. Ou seja, além das vagas para os coligados, muitos setores podem permanecer como estão.

Há ainda o relacionamento com a Câmara de Vereadores. Os três partidos da coligação de Fruet conquistaram apenas oito das 38 cadeiras do legislativo municipal. Será necessário montar um governo de coalizão, no mesmo molde federal, para construir uma boa relação com os parlamentares?

É aí que o passado bate à porta do novo prefeito. Nos dois anos como vereador (1997 a 1998), Fruet era filiado ao PMDB e fez oposição a Cassio Taniguchi. Nos últimos cinco anos como deputado federal (2005-2010), foi um dos mais eficientes opositores ao governo Lula.

Com propriedade, usou os mandatos para fazer marcação cerrada ao toma lá dá cá de Brasília, combateu o aparelhamento do Estado. O desempenho levou o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar a indicá-lo por oito anos consecutivos com um dos 100 mais influentes do Congresso Nacional, destacado na avaliação como “articulador”. Agora, chegou a vez de usar a habilidade manter a governabilidade municipal.

Após vencer uma eleição dificílima, em que apareceu virtualmente derrotado nas pesquisas do primeiro turno, Fruet tem nas mãos a chance de criar um novo paradigma: o do parlamentar crítico que não muda os valores quando chega ao Executivo. Será que ele vai conseguir? A resposta será dada a partir de hoje, quando começam para valer as negociações para a formação do novo time que vai administrar Curitiba.

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