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Créditos: Beto Barata / PR / HBO / Divulgação
Créditos: Beto Barata / PR / HBO / Divulgação| Foto:

Na primeira temporada da série Game of Thrones, a princesa Daenerys Targaryen recebe uma aula de realpolitik do “assessor” Sor Jorah Mormont. Daenerys é filha do rei recém-assassinado e, nesse momento da história, vive exilada em uma região distante dos Sete Reinos. O irmão dela, Visaerys, seria o sucessor natural ao trono, mas um golpe leva um nobre de outra família, Robert Baratheon, a assumir.

Na tal conversa, Daenerys relata a Mormont que um dos motivos para o irmão reaver o trono é o apoio popular. Segundo ela, há relatos de que a população sonha com o retorno da família Targaryen ao poder. Nesse momento, leva um corte do assessor, que recoloca o diálogo nos termos do mundo real: o povo não está nem aí para os joguinhos de poder da nobreza. Quer saber se vai ter o que comer, se o verão vai ser mais curto ou longo ou qualquer outro aspecto frugal da vida prática.

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Game of Thrones é uma das séries de televisão mais populares da história. Muitos a definem como um drama de fantasia, outros como um thriller político. A moral da história é que todo mundo passa a perna em todo mundo para ganhar um naco a mais de poder.

A comparação com o atual momento político brasileiro é inevitável. Dilma Rousseff (PT) chegou ao poder em 2014 em uma campanha inundada em corrupção (inclusive a do segundo colocado, o tucano Aécio Neves). Caiu em meio a uma homérica crise ética, com o empurrãozinho do vice, Michel Temer (PMDB).

Temer manteve o “padrão ético” no Palácio do Planalto e supera crise após crise sustentado pelo fisiologismo com que se relaciona com o baronato do Congresso. As manobras para não cair, de tão impressionantes e descaradas, se sobrepõem à ficção. Estamos vivendo um Game of Temer, com uma diferença em relação à série: ninguém quer assistir.

Temer é o presidente mais impopular dos últimos 32 anos, foi gravado na garagem da residência oficial trocando confidências com um empresário corrupto, aumentou o imposto sobre a gasolina, tem a maioria dos assessores próximos investigados por corrupção (um dos antigos foi filmado recebendo uma mala de R$ 500 mil), envergonha o país a cada viagem internacional e, pasmem, trabalha com toda a segurança de que não será afastado do cargo.

Ninguém protesta contra Temer (assim como fazia com Dilma) porque aprendeu a conviver com a ideia de que nada vai mudar. O brasileiro está tão esgotado com os descalabros de Brasília que prefere dedicar esforços ao que realmente importa no curto prazo: elucubrar sobre quem vai ganhar o Campeonato Brasileiro, se o inverno vai continuar brando, se sobrou dinheiro para o churrasquinho no final de semana e quando a mãe dos dragões vai encontrar Jon Snow.

Temer também se beneficia da total falta de carisma. Quem acompanha política (e séries) de longe até se apaixona por figuras icônicas (Lula, Bolsonaro), mas não está nem aí para o rame-rame dos corredores de Brasília. Temer só continua presidente porque é uma figura chata, que não consegue despertar nem amor nem ódio do eleitor em geral (talvez o único traço de popularidade seja a esposa, Marcela).

Game of Temer é um fracasso de público. Só por isso ele vai ficando.

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