Passaporte em mãos, eu já estava pronto para entrar na sala de embarque do aeroporto Ben-Gurion, em Tel-Aviv, quando passei pela última etapa de uma longa revista. Uma moça da segurança abre a minha mala, fuça entre a roupa suja e acha um lenço árabe, daqueles que Yasser Arafat usava. De pronto, vem a pergunta:
– Onde você comprou isso?
– Em Belém (Palestina).
– Por que você comprou?
– Porque achei bonito.
Depois do diálogo, mais uma hora de revista, nova sessão de raio-x, perguntas sobre como eu arrumei a minha mala, computador desmontado, arquivos pessoais abertos… Até que me liberaram e agora cá estou de novo em Brasília. Foi o último momento de uma viagem de três semanas a Israel para um curso sobre jornalismo em áreas de conflito com outros 23 colegas latino-americanos.
No avião, a mesma conclusão da chegada – como em qualquer guerra, nenhum dos dois lados tem 100% de razão no conflito palestino-israelense. O fato é que Israel tem supremacia militar e impõe as vantagens disso aos vizinhos. Por isso atrai toda a raiva do mundo árabe e vive o tempo todo no fio da navalha, obcecado pela defesa de um território dez vezes menor que o estado do Paraná.
Querer achar soluções ou culpados para um conflito milenar é muita pretensão para qualquer jornalista – ainda mais um brasileiro. Então é melhor falar sobre aspectos palpáveis. E, isolando a questão bélica, a organização social israelense é um caso de sucesso que merece ser estudado.
Em primeiro lugar, porque quase todo israelense é um soldado e, por incrível que pareça, isso não tem uma conotação ruim. O serviço militar de três anos para os homens e dois para as mulheres serve para reduzir diferenças culturais e gerar um verdadeiro sentimento de comunidade. Além disso, grande parte desse tempo é utilizada para serviço voluntário.
O período prolongado nos quartéis cria um clima de camaradagem e igualdade entre coronéis e recrutas que é levado para o resto da vida. Sim, o exército está integrado à sociedade, é uma ferramenta de inserção. E no Brasil?
Curioso desembarcar no país e dar de cara com as críticas do general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho sobre a presença de homossexuais nas Forças Armadas. Lembrei imediatamente das peripécias que quase todo jovem brasileiro faz para escapar do serviço militar. No fundo, eles têm razão: é difícil renunciar a um ano da juventude em prol de uma instituição com a qual é muito, muito difícil mesmo, se identificar.
Mas não é o exército israelense que mais impressiona em uma comparação com o Brasil. O trunfo inegável deles é a aposta na educação – em geral, mais de 50% do orçamento das prefeituras é gasto com isso. Vale ainda citar uma entrevista com o prefeito de Haifa, terceira maior cidade de Israel, em que ele sorriu ao explicar que administrava a única localidade na Terra na qual as grandes empresas de tecnologia (Google, Intel, IBM e tantas outras) não reclamavam de operar no mesmo parque industrial.
Por quê? Porque Israel gera uma mão-de-obra tão qualificada neste ramo que é impossível impor exigências. Lá, mais da metade da população chega à universidade.
No Brasil, o governo não consegue nem cumprir a meta de 15% de acesso ao ensino superior entre jovens de 18 a 30 anos. Sem educação, esse país não vai para frente.
No máximo, vai continuar sendo um mero exportador de commodities para que outros lugares como o minúsculo Estado de Israel continuem se desenvolvendo.
Vale o exercício de análise: quais dos principais candidatos a presidente do Brasil têm sido enfático nas propostas para melhorar a educação do país? Talvez eles nem toquem no assunto porque isso no fundo não dá voto. Bom mesmo é falar da progressão do Bolsa Família.
Ou sobre como somos um país abençoado por Deus por termos tantos recursos naturais e sermos tão pacíficos. Inegavelmente, são duas das maiores maravilhas possíveis para uma nação. A desgraça é não saber como usá-las.
-
Censura clandestina praticada pelo TSE, se confirmada, é motivo para impeachment
-
“Ações censórias e abusivas da Suprema Corte devem chegar ao conhecimento da sociedade”, defendem especialistas
-
“Para Lula, indígena só serve se estiver segregado e isolado”, dispara deputada Silvia Waiãpi
-
Comandante do Exército pede fé nos princípios democráticos e na solidariedade do povo
Ampliação de energia é o maior atrativo da privatização da Emae, avalia governo Tarcísio
Ex-desembargador afirma que Brasil pode “se transformar num narcoestado”
Contra “sentença” de precariedade, estados do Sul buscam protagonismo em negociação sobre ferrovia
Câmara de São Paulo aprova privatização da Sabesp com apoio da base aliada de Nunes
Deixe sua opinião