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Seja o candidato de situação, oposição ou até de “inclusão”, como o vencedor do primeiro turno já se definiu em Curitiba, um pouco de ideologia não faz mal a ninguém. Não que o cargo de prefeito permita manobras ousadas à esquerda ou à direita, mas é sempre bom saber a visão política daqueles que querem o seu voto. O problema é que algumas vezes eles não têm visão própria ou simplesmente não querem mostrar o que pensam.

Há alguns pilares político-ideológicos básicos, fáceis de entender. No dia das eleições, o pastor evangélico Silas Malafaia publicou no Twitter dois microtextos bem didáticos nesse sentido. “Não entendo como pastores evangélicos podem apoiar candidatos de partido comunista”, dizia o primeiro. No segundo, completava: “A ideologia comunista está baseada em Marx, que elimina Deus e os princípios fundamentais que a nossa fé defende.”

Um dos poucos nomes apoiados por Malafaia em 2012 é Ratinho Júnior. Só o fato de ele ser filiado ao Partido Social Cristão já justificaria a decisão. Mas quem olha nas letrinhas da coligação do PSC dá de cara com o… Partido Comunista do Brasil!
Não para por aí. O outro partido da chapa é o Partido da República, que até 2006 se chamava Partido Liberal. Ou seja, de um lado há a turma que (deveria) defender a propriedade comum e o controle dos meios de produção do Estado, do outro o pessoal da liberalização da economia, do laissez-faire.

Oponente de Ratinho no segundo turno, Gustavo Fruet é filiado ao Partido Democrático Trabalhista. Na coligação, conta com o Partido dos Trabalhadores e o Partido Verde. Há convergências entre as três siglas, embora PDT e PV tenham se restringido nos últimos anos a ocupar papeis de satélites da polarização entre tucanos e petistas.

Aliás, a guerra PT-PSDB é a pedra no sapato de Fruet, que até o ano passado era um proeminente membro da social-democracia brasileira. Tanto que, mal acabou o segundo turno, vários tucanos se costearam para o cercado do neopedetista. Não só eles, mas o diretório municipal do único partido do país que ainda mantém laços com a direita-velha-de- guerra, o Democratas. Sim, quem acredita que já viu de tudo pelo Brasil afora agora assistirá aos petistas e demistas juntos em Curitiba.

Muitos políticos costumam justificar essas alianças pela necessidade de apelo popular. Dizem que as pessoas não ligam para os partidos, mas para os candidatos. Assim, remete-se a discussão para a história do ovo e da galinha.

Afinal, os partidos brasileiros viraram essa gelatina insossa por que os eleitores os obrigaram a se comportar assim ou vice-versa? Está mais do que na hora de uma faxina geral nas legendas, de uma modernização de discurso ampla, geral e irrestrita. Os partidos precisam voltar a ter laços orgânicos com a sociedade, como um dia já lá atrás já tiveram o PMDB, que agora apoia o Ratinho, e o PT, parceiro de Fruet.

Votar com base apenas no carisma pessoal do candidato é um tiro na democracia, porque tudo vira uma questão de marketing. Engana-se profundamente os que acreditam que o sujeito mais profissional na apresentação do horário eleitoral será um bom prefeito na hora de tomar decisões técnicas, longe das câmeras. Eleição não é reality show.

O que vale é a análise da trajetória (inclusive ideológica) de cada um e de quem são seus verdadeiros aliados. Por mais que eles posem de super-homens, ninguém governa sozinho.

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