• Carregando...


A votação de Marina Silva em 2010 deixou um legado óbvio que poucos políticos querem enxergar: um a cada cinco brasileiros está sedento por mudança. Eles não querem mais saber da polarização entre PT e PSDB, da guerrinha FHC x Lula, da discussão tola sobre quem privatizou mais ou menos. No fundo, essas pessoas nem definiram exatamente o que desejam, mas têm certeza de que não é o cenário que aí está.

Marina e seus quase 20 milhões de votos (19% dos válidos) não são um patrimônio uno. Apesar de ela ter tido méritos indiscutíveis no ano passado, seu principal cabo eleitoral foi a rejeição dos eleitores a Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Uma rejeição ao mais do mesmo.

A ex-senadora percebeu o tamanho desse patrimônio. Após a eleição, tentou enquadrar o PV a essa nova tendência, não conseguiu e preferiu cair fora. Vai fundar uma nova legenda, mas antes prepara uma transição baseada no tal movimento “sonhático”, como ela mesma define.

E o PV, como é que fica? Será que os verdes não têm direito a nenhum pedaço da herança eleitoral do ano passado? Têm sim, mas se não se prepararem o espólio se esvai entre os dedos.

Com 14 deputados federais e um senador, o partido tem pouco poder de fogo para fazer uma oposição diferenciada ao governo Dilma. No começo do ano, até tentou uma jogada interessante ao formar bloco com o PPS (que tem 12 deputados) na Câmara. A ideia de agir de maneira independente, contudo, logo foi para o brejo quando o PPS preferiu seguir o caminho da oposição extrema, alinhando-se ao DEM e ao PSDB.

Sem Marina, a atração exercida pelo Palácio do Planalto tornou-se fatal. Na semana passada, Dilma reuniu-se com os verdes pela primeira vez – e em tom de completa cordialidade. Na saída, lideranças deram declarações de que o partido não integraria a base governista, mas que estava disposto a ajudar a presidente a manter a “governabilidade” (sim, elas conseguiram escolher o mesmo termo tão surrado pelo PMDB).

Foi aí que o PV chegou ao limite entre ser herdeiro legítimo dos anseios de um quinto dos brasileiros ou assumir-se como uma legenda comum à caça das benesses do poder. Por incrível que pareça, é uma decisão complexa. Envolve os ranços de sempre da política, uma encruzilhada entre ambição e comodidade.

A dúvida que parece acometer os verdes é se eles podem ser grandes sem Marina. Claro que essa grandeza não se tornará realidade da noite para o dia, mas a legenda dispõe de opções já para as eleições municipais de 2012. Nas duas maiores cidades do país o partido tem pré-candidatos competitivos – Fernando Gabeira no Rio de Janeiro e Eduardo Jorge em São Paulo.

Em Curitiba, existe a perspectiva de filiação de Gustavo Fruet. Vale lembrar que, na capital paranaense, Marina fez 280.110 votos, apenas 929 a menos que Dilma no primeiro turno. Fruet, então candidato ao Senado pelo PSDB, recebeu 646.886 votos na cidade.

Os números indicam que o efeito Marina – ou pelo menos o desejo de mudança – seria ainda mais forte entre os curitibanos do que na média nacional. Mas assim como no restante do país, ninguém até agora se atentou à importância desse nicho. Nesse sentido, parece que as eleições polarizadas agradam mais aos próprios políticos do que aos eleitores.

Enquanto os verdes não amadurecem a decisão pela terceira via, o espaço continua lá, para quem quiser ocupá-lo. A demora só reforça uma teoria: ainda não se sabe se existe vida própria no PV após Marina.

***

Siga o Conexão Brasília no Twitter!

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]