• Carregando...
Más notícias, boas notícias
| Foto:
Reprodução
Publicidade do Congresso: eles querem notícias positivas.


Publicado hoje na coluna Conexão Brasília, na edição impressa da Gazeta do Povo:

A enxurrada de escândalos que assola o Senado nos últimos quatro meses incita a discussão sobre os rumos da cobertura jornalística do Congresso Nacional. Puxados pelas palavras de autodefesa de José Sarney e pela contemporização do presidente Lula sobre a crise dos atos secretos, parlamentares voltaram carga contra o tom negativo do noticiário sobre o Poder Legislativo.

A tese deles é simples: por que os jornais não enfatizam a divulgação do que os congressistas fazem de bom? O questionamento é recheado de teorias da conspiração, como o suposto interesse dos meios de comunicação em desestabilizar o parlamento.

Nessa linha, não faltam propostas de uma cisão para valer, uma guerra declarada entre imprensa e políticos. Durante um seminário sobre ética e transparência nos Poderes da República, promovido pela Câmara na quinta-feira, o deputado federal Glauber Braga (PSB-RJ) chegou a levantar a possibilidade de que veículos privados que recebem dinheiro público publiquem o salário dos funcionários.

No mesmo evento, o presidente da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção, Rubem Santiago (PDT-PE), disse que a imprensa trabalha no “varejo”, apenas em busca dos “cabeças” dos escândalos. Enquanto isso, os jornalistas não estariam preocupados em investigar a fundo como funcionam os esquemas de corrupção para ajudar a eliminá-los.

Fora o ranço e a mágoa de certos depoimentos, algumas reclamações fazem sentido. Mas a análise não pode ser tão simplista, de antítese entre notícias boas e ruins.

Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que os fatos supostamente positivos, como a aprovação de projetos de interesse da sociedade, saem sim nos jornais. Até porque eles são divulgados com presteza pelos veículos oficiais, ou seja, não há como sonegar informação, fingir que ela não existe.

Já as maracutaias, obviamente, não estão soltas no ar, disponíveis e com explicações facilitadas por assessorias de imprensa. Elas não foram feitas para serem descobertas, para dar mídia – isso qualquer pessoa entende, menos os envolvidos nos casos.

O que muitas excelências parecem compreender cada vez menos é que a carreira política exige lisura. E que cuidar de dinheiro público é algo muito mais sensível do que administrar as finanças da própria empresa ou família.

Do ponto de vista jornalístico, vale nesse caso a surrada máxima de que um cachorro morder uma pessoa não é notícia, mas o contrário, sim. Dizem que a metáfora é a prerrogativa do sensacionalismo, mas na verdade é uma demonstração de que as pessoas não querem ou não precisam ser informadas do que elas já sabem.

Apresentar propostas relevantes, participar de debates em plenário e ser assíduo nas comissões são requisitos básicos de qualquer parlamentar. Na cabeça do eleitor-leitor, está bem claro que eles foram escolhidos para isso mesmo.

Já os parlamentares que insistem em se meter em escândalos… É da mordida deles que os cães tanto temem.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]