A cúpula das Forças Armadas do Brasil acaba de colocar no papel a preocupação com o quadro político e econômico do país – e a repercussão disso nas eleições de 2018. Após encontro no dia 1º de novembro, os comandantes militares assinaram uma ata que formaliza essa percepção. A decisão foi noticiada em reportagem do jornal Folha de S. Paulo, que teve acesso ao documento.
Há algo mais relevante na ata, porém, que a demonstração desse desconforto. Após idas e vindas provocadas por declarações do general Antonio Hamilton Mourão, que falou sobre “impor uma solução” à crise política, o tom agora é de “estrita observância dos preceitos constitucionais”. Trocando em miúdos, é um banho de água fria nos defensores de uma intervenção militar.
“É preciso que o país construa o ambiente de tranquilidade necessário para prosseguir no esforço de superação das dificuldades econômicas, essencial para a defesa da soberania e dos interesses nacionais para que tenhamos um processo eleitoral tranquilo no próximo ano”, diz o texto, segundo apurou a Folha.
O posicionamento do comando militar é tranquilizador. Por outro lado, é inegável que demorou muito para ser formalizado. Mourão virou um problema difícil de ser repreendido e, enquanto não houve uma resposta clara na época em que a notícia vazou (17/9), o circo pró-intervenção pegou fogo.
Onze dias depois (28/9), uma sondagem do Instituto Paraná Pesquisas revelou que 43,1% dos brasileiros eram favoráveis a uma intervenção militar provisória no país. O dado assustador dentro do dado assustador: a maior parte dos apoiadores de uma ação militar tem entre 16 e 24 anos (46,1% do total pró-intervenção).
Na Câmara, o deputado federal Cabo Daciolo (PTdoB-RJ) embarcou no tema e resolveu defender até o fechamento do Congresso Nacional. O “surto” pró-militares vinha avançando com rédea solta. Contê-lo sempre foi função dos próprios militares – espera-se que o efeito seja mais rápido do que a manifestação dos generais.