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Se os políticos não gostassem tanto de poder, não seriam políticos. Alguns até entram nessa realmente pela chance de tomar decisões importantes, de liderar, mudar ou avançar. Pouquíssimos, no entanto, escapam do encantamento pelas benesses que vêm junto com os cargos públicos.

Na semana passada, a Folha de S. Paulo noticiou que o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir de Natal ao Rio de Janeiro assistir à final da Copa das Confederações. O parlamentar levou sete convidados, entre parentes e amigos. Para amenizar o escândalo, logo anunciou que devolveria à viúva R$ 9,7 mil, que seriam equivalentes aos bilhetes em voos comerciais da tripulação extra.

O jornal não passou recibo. Foi atrás e apurou que um voo fretado, equivalente ao da FAB, não sairia por menos de R$ 158 mil. No mesmo dia, noticiou que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RN), também usou um avião do gênero para ir de Maceió a Porto Seguro, em junho. Calheiros foi ao casamento da filha do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), em Trancoso – no início, não topou devolver o dinheiro da viagem e depois bateu o martelo em R$ 32 mil.

Não são apenas os atuais comandantes do Legislativo brasileiro que vivem com a cabeça nas nuvens: nos últimos dias, também foram revelados episódios com o presidente do STF, Joaquim Barbosa, e o ministro da Previdência, Garibaldi Alves. Mais para trás, em 2009, o escândalo das passagens jogou metade do Congresso na berlinda. Entre outros casos revelados na época, o deputado Fábio Faria (PSD-RN) chegou a distribuir bilhetes de sua cota para os atores da TV Globo Kayky Brito, Stephany Brito e Samara Felipo, além da então namorada, a apresentadora Adriane Galisteu.

Também em 2009, descobriu-se que o Senado mantinha 181 diretorias. A mais famosa era a de “check-in” no aeroporto de Brasília. Depois da onda de notícias negativas, as passagens do baixo clero foram limitadas aos parlamentares e assessores diretos.

Episódios estranhos nas alturas não se limitam aos políticos da capital. Em 2011, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB) viajou para a Bahia em um avião emprestado pelo empresário Eike Batista para o aniversário de outro empresário, Fernando Cavendish, ex-dono da empreiteira Delta. Em outro deslocamento para a mesma festa, um helicóptero caiu e matou sete pessoas, entre elas a namorada do filho de Cabral.

Em dezembro do ano passado, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), viajou a Santa Catarina em um avião pago por uma empresa privada do ramo de alimentação para visitar o kartódromo do parque Beto Carrero. A propósito, Richa também esteve no Maracanã na final entre Brasil e Espanha. E usou o avião do governo, segundo a assessoria, porque antes do jogo cumpriu agenda com outros representantes de estados que vão receber a Copa e a Fifa.

Entre tantos episódios similares, não dá para ser hipócrita: governantes precisam ter agilidade para se deslocar. A questão está no como, no onde e nos porquês. Na política não existe almoço grátis, muito menos carona em avião.

Ir às pressas a uma região atingida por uma catástrofe é uma coisa, passear é outra bem diferente. Curioso que no cerne das manifestações que tomaram conta do Brasil nas últimas semanas está justamente o transporte. Enquanto o “gigante” fala em reduzir as passagens de ônibus, os políticos continuam vendo tudo de cima.

Do alto dos aviões que, direta ou indiretamente, são pagos por todos nós.

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