Entre dezenas de vitórias no Congresso Nacional, Lula guarda uma mágoa da oposição que sempre faz questão lembrar. O ex-presidente nunca engoliu a votação que impediu a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) no Senado, em 2007. Ao que tudo indica, esse tipo de trauma não vai tirar o sono de Dilma Rousseff.
A aprovação do reajuste do salário mínimo para R$ 545 deixou claro que, quatro anos depois, a oposição já não é mais a mesma. Sócios de sempre, DEM e PSDB vivem hoje uma parceria claudicante. Além de os dois terem encolhido nas eleições de 2010, há ainda cada vez menos dissidentes do governo no PMDB.
Para entender a situação, é preciso traçar paralelos entre as duas votações. A renovação da CPMF dependia da aprovação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) – ou seja, o governo precisava de 49 dos 81 votos dos senadores. O resultado foi de 45 a 34 a favor do texto, bem perto do limite.
Já o aumento do mínimo constava de um projeto de lei e necessitava apenas da maioria absoluta dos votos. Ainda assim, a proposta do governo contou com o apoio de 54 senadores. Moral da história: se tanta gente foi favorável a uma proposta impopular, é porque há gordura de sobra para o Planalto aprovar o que bem entender – seja um novo “imposto do cheque” ou reformas polêmicas, como a tributária.
Deveria significar um alerta máximo para a oposição, mas não funcionou bem assim. Tucanos e democratas ainda estão mais preocupados em resolver problemas internos. Há uma nova ordem em alinhamento, que também afeta outras legendas.
Sem alarde, o PPS começa a deixar a órbita do PSDB. Na Câmara, o partido acaba de montar um bloco com o PV. No vácuo de Marina Silva, os verdes fincaram a bandeira de “independentes” do governo ao apoiar o mínimo de R$ 560.
A aproximação entre as duas siglas é motivada claramente pela tese de que há brecha para uma “terceira via”, distante da polarização entre tucanos e petistas. Difícil dizer se vai pegar. Por enquanto, o discurso está ancorado apenas nos quase 20 milhões de votos de Marina no ano passado – e não há novas lideranças que ajudem a ampliar esse foco.
Já o DEM é consumido pela desnutrição de oito anos longe do poder. O antigo PFL, conglomerado de oligarquias que sempre esteve no topo até a chegada da era Lula, não consegue superar a novela Gilberto Kassab. O prefeito de São Paulo é protagonista de um impasse cada vez mais jocoso que envolve a criação de um novo partido ou a migração para o PMDB.
Em ambas as circunstâncias, quem perde é o conjunto da oposição. E, é claro, seu partido mais representativo. Além de abatido pelas confusões externas, o PSDB não dá mostras de que conseguirá superar em curto prazo o antigo dilema da disputa entre Aécio Neves e José Serra.
Escanteado pelo partido na última disputa presidencial, o senador mineiro ainda não conseguiu transformar-se em unanimidade interna. Mesmo sem cargo eletivo, Serra permanece manobrando por poder. Sim, a disputa parece um filme repetido.
Esfarelada, a oposição contribui para um começo de gestão tranquilo para Dilma, mesmo que a presidente permaneça encurralada pela necessidade de cortar gastos públicos. O certo é que se DEM, PSDB e PPS precisam de uma luz para buscar um novo caminho, ela não virá desse “poste”. A previsão é de um longo caminho no escuro.
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