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Procura-se um partido de direita
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Roosewelt Pinheiro/ABr
Dilma e Serra: há diferença entre eles?

Entrevistei há duas semanas o economista da velha guarda Carlos Lessa, presidente do BNDES no primeiro ano do governo Lula e um dos gurus de Roberto Requião. Lessa sabe muito sobre outros dois economistas – foi professor de Dilma Rousseff na Unicamp e amigo íntimo de José Serra no exílio do governador no Chile. Qual diferença ele vê entre os dois?

Nenhuma.

Ouvi outras 13 fontes sobre os sete assuntos mais quentes que serão tratados na próxima eleição. Gente de direita e de esquerda. Novamente, ninguém polarizou ideologicamente os principais candidatos em qualquer tema – do papel do Estado na economia às propostas para o meio ambiente.

Lessa, referência da esquerda desenvolvimentista, prevê uma campanha pífia de ideias, superficial. Para ele, cada candidato vai ficar falando das maravilhas feitas pelas suas gestões em Brasília e São Paulo. E o PT vai tentar colar na testa do PSDB a pecha de privatista, como já fez nas duas eleições eleições anteriores com sucesso.

A questão é que, originalmente, Serra é tão de esquerda quanto Dilma. E que agora ambos dividem uma centro-esquerda que virou o consenso ideológico do país. Infelizmente, acabou a pluralidade.

Parece engraçado, mas a culpa é da própria direita. O esfacelado Democratas, antigo Partido da Frente Liberal, até tentou criar uma nova identidade nos últimos anos. O esforço não enganou ninguém – a juventude pefelista é formada pelos descendentes dos mesmos oligarcas de sempre.

O tiro de misericórdia na legenda foi o mensalão do Distrito Federal.
Sem o DEM, quem sobra? Até o Partido Progressista, herdeiro legítimo da velha Arena, forma a base governista. O Partido da República (antigo Partido Liberal) também é lulista de carteirinha.

Não precisa ser muito inteligente para juntar todas essas informações e dizer: a direita brasileira morreu. Também não é novidade porque ela vem morrendo faz tempo, desde o final da ditadura militar (1964-1985). É sempre bom ressaltar: o enterro dessa direita rançosa é interessante, o ruim é que ninguém tenha ocupado esse espaço.

Na semana passada, Fernando Henrique Cardoso (que não é bem um representante da direitona) inovou ao defender o liberalismo. Disse que o Brasil precisa decidir que tipo de capitalismo vai escolher. Se será um capitalismo “burocrático, corporativo” e com um Estado “mandão” ou um capitalismo de “competição”.

Em outras palavras, explicou que ser liberal não é feio nem significa ser entreguista ou contra o Estado. É defender as liberdades individuais, o direito à competição, a redução dos impostos. Hoje não há qualquer legenda de credibilidade que pregue esses conceitos no Brasil.

A briga é para saber como manter ou ampliar a máquina arrecadatória, o tamanho das empresas estatais, a regulação da imprensa e tantas outras regras para emparedar a vida do cidadão. Dilma e Serra estão de acordo em quase todos esses temas, com diferenças bem sutis. O que ninguém se preocupa é em mostrar como melhorar as questões mais simples.

É até coerente para a centro-esquerda dominante pensar em aumentar a participação do Estado na economia. O que é estranho é que esse mesmo Estado ainda está a anos-luz de distância de cumprir as suas três funções básicas – garantir educação, saúde e segurança de qualidade.

É como falar mal do vizinho sem cuidar do próprio quintal ou não fazer a lição de casa e dar uma de professor. Parece lógico, mas não é. A pena é que não haverá discussões desse nível na próxima eleição.

Por mais feio que isso possa parecer no Brasil e na atual América Latina, estamos precisando de um partido de direita. Vaga é o que não falta.

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