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Jonathan Campos/Gazeta do Povo, enviado especial à Rússia
Jonathan Campos/Gazeta do Povo, enviado especial à Rússia| Foto:

DIRETO DE MOSCOU, RÚSSIA – Principal nome da seleção mais campeã das Copas do Mundo, maior contratação da história do futebol, ídolo mundial, Neymar deixou a Rússia praticamente sem abrir a boca. Só falou nos bastidores da seleção brasileira e via Instagram, a rede social preferida do craque e espécie de Big Brother particular no qual ele é o próprio câmera, editor e diretor, sempre com milhões de curtidas instantâneas.

Saiu do período na Rússia tendo participado de uma coletiva só, após a vitória sobre o México (2 a 0), quando foi destaque, nas oitavas. E, curiosamente, quando ouviu uma pergunta mais dura, sobre as críticas do treinador Juan Carlos Osorio, não respondeu, porque Tite interveio e soltou uma bobagem como “técnico fala com técnico, jogador com jogador, dirigente com dirigente”.

Não falou em nenhum pré-jogo. Nas zonas mistas dos estádios, falou rapidamente após a estreia, com a Suíça. No mais, passou sempre olhando para baixo, com fone de ouvido, negando com a cabeça ou um “hoje não, parceiro” os pedidos de respostas de toda a mídia, da imprensa que o exalta, passando pela mais crítica, da nacional até a internacional. Quando venceu e quando perdeu no torneio.

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Deu somente outras duas manifestações, ambas pelo Instagram, uma após o jogo com a Costa Rica, quando escorou para as redes com o gol aberto o segundo do Brasil, já nos acréscimos, diante da seleção mais fraca do grupo E. Foi uma espécie de “desabafo” em que atirou contra os críticos, sem citar ninguém, e posou como injustiçado, numa guerra pessoal de “contra tudo e contra todos”.

Neymar também apareceu após a eliminação do Brasil, novamente pelo Instagram. Com apenas 26 anos, no auge da carreira, dono de um salário de cerca de R$ 14 milhões mensais pagos apenas pelo PSG (sem contar patrocínios etc), morador de Paris, a mais bela cidade do planeta, o camisa 10 disse que seria “difícil encontrar forças pra querer voltar a jogar futebol”. Foi sua primeira manifestação, mais de 24 horas depois do apito final contra a Bélgica.

O atleta tem todo o direito de não se manifestar, para a imprensa, para quem quer que seja. Ninguém é obrigado a dar entrevistas. Agora, a reclusão da estrela da mais estrelada das equipes, é mais uma demonstração, inequívoca, evidente, ululante, de como as coisas estão fora do eixo. E, aparentemente, não devem melhorar tão cedo para Neymar dentro da seleção brasileira.

O fato de não aceitar nenhum tipo de contestação. De não responder uma pergunta sequer. De não se relacionar com o ambiente externo. De não ser confrontado com uma crítica. E de explodir em inconformismo, e choro teatral, só porque marcou um golzinho na defensiva costa-riquenha, é um sinal, claríssimo, de como a cabeça de Neymar está confusa. E no futebol, a cabeça joga e o corpo obedece aos comandos.

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Do craque é certo que não vai partir um desejo de mudança de postura. A não ser que algo muito surpreendente ocorra. O mesmo deve acontecer da parte dos amigos, liderados por Gil Cebola, o número 1 dos Parças, o grupo de camaradas que o jogador carrega de jatinho para todo o lugar e está sempre a postos para repercutir, também nas redes sociais, os reais pensamentos do amigo e, de alguns, espécie de tutor.

O mais grave é perceber, entretanto, que não há qualquer perspectiva de que as cobranças surjam dentro da seleção. Edu Gaspar, o coordenador do Brasil, deu entrevista constrangedora no adeus de Kazan. Convocou a imprensa para dizer que não sabe do futuro de Tite e que “é difícil ser Neymar” e que “chega a dar pena”. Como alguns disseram, o dirigente encarnou, quatro anos depois do 7 a 1, a inesquecível e pitoresca “Dona Lúcia”.

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E por que se critica o comportamento de Neymar? Por que se fala tanto dele fora de campo? Ora, porque todos os passos que o craque dá longe dos gramados, tudo que faz no plano pessoal, a maneira como reage, se relaciona, se expõe ou deixa de aparecer, reflete nas ações com a bola nos pés. Como qualquer pessoa normal. Você é no seu trabalho, em maior ou menor medida, o que é na vida.

Assim, diante de tal cenário preocupante, é urgente que a seleção brasileira elabore um novo plano para lidar com o seu jogador número 1. O que foi encampado na Copa fracassou. Neymar quase foi ofuscado por Phillipe Coutinho e teve atuação medíocre no revés nas quartas. Avaliando os 90 minutos na Arena Kazan, quem você traria para o seu time? Lukaku? Kevin De Bruyne? Hazard? Ou Neymar?

Que sejam contratados tantos profissionais quantos necessários para amparar o jogador. Assessor de comunicação, psicólogo, terapeuta, gestor de carreira (como teve Ronaldo Fenômeno), babá, enfim, até mesmo um terceiro cabeleireiro caso seja útil. As correções são evidentes e a Copa do Mundo no auge da carreira já passou. Na próxima, Neymar terá 30 anos, praticamente a mesma idade de Messi na Rússia.

Da mesma forma, é preciso continuar debatendo Neymar. As cobranças em cima do camisa 10 são proporcionais ao status dele — como ocorre com Cristiano Ronaldo e Messi, como era com Michael Jordan e Michael Phelps, ou quando Robert De Niro aparece em novo filme ou os Jay Z e o Roupa Nova lançam um disco (não juntos). Mesmo que Neymar não queira conversa com ninguém. A não ser que chegue um inbox do Gil Cebola no Insta.

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