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Vista aérea da Amazônia
Vista aérea da Amazônia| Foto: VALTER CAMPANATO-ABR

Na última sexta-feira (17) publiquei um artigo mostrando o início do contra-ataque do governo à campanha difamatória contra o Brasil no exterior, em que governantes, empresários e celebridades insinuam que a floresta Amazônica está ameaçada por desmatamentos e queimadas que estariam dando lugar à agricultura e à pecuária. O discurso recebe reforço de parte da imprensa, que reproduz dados fora de contexto, provocando confusão.

Houve quem questionasse o vídeo preparado pelo Ministério da Agricultura e os dados oficiais da Embrapa - ambos mostrando que o agronegócio brasileiro padrão exportação concentra-se em estados do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Bahia e não na Amazônia. Os adeptos da versão de que a floresta está realmente em chamas e desaparecendo a olhos vistos, apresentam sempre o mesmo argumento: fotos de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostrando supostas queimadas na região amazônica.

Fotos de satélite recentes do INPE realmente indicam inúmeros "pontos de calor" (prováveis queimadas) sobre o Brasil. Mas os que usam esse argumento para dizer que o país não preza por sua maior floresta não mencionam que a maior parte desses pontos está em lugares onde as queimadas e o plantio são permitidos, na chamada Amazônia Legal.

Há má fé quando se omite a informação de que os proprietários de terra em áreas vizinhas à floresta, consideradas pré-Amazônia, podem, por lei, desmatar até 20% dos terrenos para ocupá-los com atividades econômicas. Índios, inclusive, promovem queimadas em parte de suas terras para plantar e garantir sua própria sobrevivência.

Isso não quer dizer que não haja desmatamento e até queimadas ilegais. Sempre houve, em todos os governos. E é algo que precisa ser combatido. Mas a verdade precisa ser dita com todas as letras, senão é fácil cair no conto do "nunca antes na história deste país".

E o outro relatório recente do INPE, não sobre pontos de calor, mas sobre derrubada de árvores? Lá aponta-se que o desmatamento da Amazônia cresceu 25% no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período do ano passado, algo que evidentemente precisa de ação imediata do governo e vigilância da sociedade.

Mas quem divulga um relatório desses jamais deveria deixar de mencionar que o mesmo documento cita que o desmatamento já foi maior em outros períodos, quando o Brasil estava sob outros governos. Ou seja, governantes passados já conviveram com estatísticas até piores que as atuais, sem que fossem acusados de incendiários ou que vissem o Brasil sofrer campanha orquestrada de difamação no exterior como ocorre agora.

Voltando às queimadas... Na segunda-feira (20) o colunista J.R.Guzzo publicou em sua coluna aqui na Gazeta uma imagem de satélite da Nasa, que faço questão de reproduzir novamente. As áreas vermelhas neste mapa-mundi mostram que a maior concentração de focos de incêndio está na África e não na Amazônia.

Satélites da Nasa que monitoram focos de incêndio no mundo revelam que a maior concentração de fogo no mundo está na África e não na Amazônia.
Foto de satélite da Nasa mostra, em vermelho, os focos de incêndio no mundo no dia 18/07/2020| Reprodução

Em sua análise Guzzo foi preciso.

"No mapa do dia 18 de julho, emitido pelo Fire Information for Resource Management System (FIRMS) do Earth System Data (ESDIS) da Nasa, aparece uma densa e vasta concentração de incêndios na bacia do Congo e de Madagascar, na África. É, disparado, o maior foco de destruição de florestas do mundo. Nas mesmas fotos, o Brasil registra um pequeno clarão de fogo na altura do Piauí e Maranhão. Na Amazônia, nada – zero."

J. R. Guzzo, colunista da Gazeta do Povo

Na foto vê-se claramente que na América do Sul em geral a situação não é boa. O clima extremamente seco neste 2020 tem sido cruel com toda a região. Os pontos de queimada se espalham pelo continente, mas grande parte da Amazônia está fora disso - até porque, todos sabemos, a floresta é úmida e não queima assim tão fácil como dizem.

E cabe aqui citação a outro colunista da Gazeta do Povo. No artigo desta quinta-feira (23) Alexandre Garcia também menciona números da Amazônia, levantados pelo comandante do Exército, general Edson Pujol. Segundo ele "o Brasil tinha quase 10% das florestas do mundo, hoje esse valor é de quase 30%. As florestas do Brasil não aumentaram; as florestas do mundo é que foram desmatadas. Eles derrubaram, desmataram e agora estão xingando o Brasil, como uma espécie de propaganda."

Ex-ministro de Dilma e Lula aponta interesses geopolíticos por trás da campanha de difamação

Em entrevista recente à rede de televisão CNN Brasil, Aldo Rebelo, que foi titular de quatro ministérios por um período de quase cinco anos nos governos Lula e Dilma, foi enfático ao rebater as mentiras sobre a maior floresta do mundo e a campanha difamatória que está em curso contra o Brasil lá fora, alimentada, inclusive, pelos ex-presidentes Lula e Dilma em suas viagens pagas com dinheiro público para falar mal do atual governo.

“A Amazônia não está em chamas. Não há desmatamento descontrolado na Amazônia.”

Aldo Rebelo, ex-ministro da Defesa de Lula e Dilma Rousseff

O comunista, que passou a maior parte da carreira política no PCdoB, foi Ministro-chefe da Secretaria de Coordenação Política e de Relações Institucionais de Lula, entre 2004 e 2005, e depois voltou à linha de frente do governo Dilma, entre 2011 e 2016, como Ministro dos Esportes; Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação e, por fim, Ministro da Defesa. Além disso foi também relator do Código Florestal Brasileiro.

“Não há em nenhuma área do planeta, um hectare, um metro quadrado, mais protegido do que o que o Brasil tem na Amazônia”, disse Aldo Rebelo. “Em nenhum país europeu, nem asiático ou na América do Norte há tanta proteção para florestas, para áreas verdes, para rios como nós temos na Amazônia. E qual é a tragédia? Parece que o Brasil tem naquela região a maior ameaça ao meio ambiente do mundo, o que evidentemente não é verdade.”

Sobre as queimadas o ex-ministro dos governos petistas alinha-se ao que dizem integrantes do atual governo: “As queimadas obedecem a uma série de fatores. O primeiro deles são os incêndios sazonais. E os mais graves nem são na Amazônia, são nos Estados Unidos. A Califórnia chega a queimar quase inteira, com mortes, como aconteceu em Portugal, na África, na Rússia, na Europa inteira."

"Na Amazônia as queimadas sazonais acontecem nesse governo, aconteceram algumas até mais graves nos governos do ex-presidente Lula, quando os ambientalistas tinham grande influência no Ministério do Meio Ambiente.”

Aldo Rebelo, ex-ministro da Defesa de Lula e Dilma Rousseff

Aldo Rebelo menciona também as queimadas criminosas, criticando o governo Bolsonaro pela falta de controle sobre o problema, inclusive em áreas públicas. Mas reforça que, por trás da divulgação sobre os incêndios, há uma campanha orquestrada para prejudicar o agronegócio brasileiro.

“Em nome disso [de denunciar queimadas criminosas], se combate a atividade agrícola e a pecuária na Amazônia, atividades mais do que centenárias. Há 300 anos tem pecuária na Amazônia... Em todos os quatro ministérios que eu ocupei eu só vivia quase que o tempo inteiro na Amazônia. Tem o problema da biodiversidade, o problema ambiental, mas tem interesses geopolíticos."

"O vice-presidente, quando falou em problemas geopolíticos, não inventou nada de novo nem disse nenhuma inverdade. Isso tem 500 anos de história. Desde o Tratado de Tordesilhas que todo mundo sabe que tem uma questão geopolítica na Amazônia.”

O que ninguém diz: a questão do crédito de carbono

O mais importante dessa entrevista não foi nem a desmistificação em torno da “Amazônia em chamas” ou da "Amazônia devastada", mas a explicação sobre outro real interesse de parte dos governantes do mundo em denegrir a imagem do Brasil para tirarem, eles próprios, vantagens sobre nosso maior patrimônio.

“O mais grave hoje é que a Amazônia tornou-se um ativo da chamada economia ou do mercado de carbono", disse Aldo Rebelo à CNN Brasil. "O mundo precisa de áreas, ou de florestas ou para reflorestar, para atingir a chamada meta do milênio, porque se você não pode parar de emitir carbono, você tem que sequestrar. Então se você sequestra, você tem que ter o que pra sequestrar? Áreas verdes."

E o ex-ministro continua: "Onde é que estão essas áreas verdes? Os europeus não estão dispostos a ceder; os americanos, muito menos; a China nem pode, porque não tem; a Índia também não; a África não oferece segurança jurídica para reflorestamento ou para proteção de áreas verdes. O único país que tem muita área verde, que tem um Estado que funciona, que tem segurança jurídica é o Brasil."

"Então a Amazônia vai se transformando não apenas numa área física de disputa geopolítica, de biossegurança, de biodiversidade, mas também num ativo para esse mercado promissor que é esse mercado de crédito de carbono.”

A entrevista tem pouco mais de 20 minutos e merece ser vista por inteiro. Nela o ex-ministro dos governos petistas elogia o atual governo por repudiar qualquer tipo de limitação sobre a soberania da Amazônia, ao mesmo tempo em que aponta o erro de Bolsonoro ao adotar uma retórica de beligerância e não explicar ao mundo o que a Amazônia realmente é.

Rebelo enfatiza que é preciso “explicar que só o estado do Amazonas tem mais florestas do que os territórios reunidos da França, Alemanha, Noruega, Holanda, Bélgica e Dinamarca" e que "o estado do Amazonas tem mais de 98% de vegetação nativa. Um e pouco por cento é que é ocupado por agricultura, por pecuária, cidades, infra-estrutura.”

É o que o governo parece ter começado a fazer deixando a Amazônia sob responsabilidade do vice-presidente Hamilton Mourão, general do Exército com experiência na Defesa estratégica do país, e com as ações do Ministério da Agricultura, que já começou a ofensiva divulgando o vídeo com o verdadeiro mapa do agronegócio brasileiro.

Muitos outros passos precisam ser dados. E, nós, brasileiros de bem, preocupados com o país e com a verdade sobre nossas florestas, nossa produção e nossa soberania, precisamos ajudar, compartilhando as fotos de satélite da Nasa e as entrevistas de quem conhece a Amazônia de verdade e está, ou já esteve, à frente da Defesa nacional.

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