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CHEMNITZ, GERMANY – MAY 8, 2018: Karl Marx monument in public space of Chemnitz city, Germany. The monument is locally known as Nischel. It was designed by Lev Kerbel. (CHEMNITZ, GERMANY – MAY 8, 2018: Karl Marx monument in public space of Chemnitz ci
Monumento a Karl Marx na cidade alemã de Chemnitz.| Foto: Bigstock

O professor David T. Koyzis, doutor em Filosofia pela Universidade de Notre Dame e professor de Ciência Política na Redeemer University College, no Canadá, diz sobre o conceito de uma visão de mundo, ou cosmovisão, o seguinte: “a cosmovisão é uma visão pré-teórica, arraigada em um compromisso religioso básico à qual interage com a experiência ordinária da vida e é moldada por ela”.

Esta citação faz parte do livro Visões & Ilusões Políticas, publicado originalmente em 2004 (ganhando o prêmio The World Guild Canadian Writing Awards, na categoria de “não ficção/cultura”) e com tradução para o português editada por Edições Vida Nova. A obra ainda vem com prefácio de Richard J. Mouw, com muitas considerações interessantes sobre a mudança política global da última década.

Em um cenário de tanta polarização, entendemos ser um livro bastante oportuno para o momento que atravessamos. O estudo foi dividido nas seguintes partes: 1. Liberalismo: A soberania do indivíduo, 2. Conservadorismo: A história como fontes das normas; 3. Nacionalismo: O Deus zeloso por sua nação; 4. Democracia ou democratismo? Quando as pessoas reivindicam demais; 5. Socialismo: a salvação pela propriedade comum; 6. Transcendendo as ideologias: afirmando a pluriformidade social; 7. Rumo a uma alternativa não ideológica: Duas abordagens cristãs históricas; 8. O Estado e sua missão: Promovendo a justiça no mundo de Deus. Ao final, Koyzis faz um Pós-escrito eclesiológico, que tem por tema central a catolicidade da Igreja e o seu impacto no mundo.

Há uma maneira adequada de a organização religiosa abordar questões políticas, especialmente durante tempos de crise ou quando as ideologias que exploramos tornam-se letais

O autor oferece três princípios para ajudar os líderes religiosos e pregadores a determinar o que é ou não apropriado para pregarem e falarem publicamente. O primeiro ponto é o reconhecer que quando esse ministro religioso fala de assuntos políticos no púlpito, ele está falando para a sua congregação e não para o Estado. Isto significa que sua fala deve transmitir a graça vivificadora de Cristo às pessoas que estão sentadas nos bancos, inclusive no momento de fornecer instrução política.

O segundo ponto é que os ministros devem reconhecer que, ao dirigirem o culto e pregarem a cada domingo, eles efetivamente formam discípulos que viverão a palavra de Deus durante a semana. E o terceiro ponto está em mostrar que há uma maneira adequada de a organização religiosa abordar questões políticas, especialmente durante tempos de crise ou quando as ideologias que exploramos tornam-se letais.

Já em relação ao conteúdo do livro, David Koyzis explica como o pensamento e o exercício político podem ser afetados pela idolatria. Conforme elucida, a idolatria é a origem de todos os outros pecados: toma algo pertencente à criação, eleva-o acima do limite que separa o Criador da criatura e faz dele um tipo de deus.

Cada uma das ideologias exploradas no livro pressupõe uma história básica que vê os seres humanos buscando efetuar a própria salvação e estendê-la para o resto do mundo. Por isso, este é um livro essencial para amadurecer o debate político e alinhar os caminhos de diferentes organizações religiosas que desejam ser relevantes na cidade.

Os cinco temas comuns que serão tratados se resumem em algumas perguntas que o autor faz no livro, como: Qual sua base criacional? O que elas veem como uma fonte do mal? Onde elas situam a fonte de salvação, e que história redentora elas contam? Quais inconsistências têm conduzido a tensões internas dentro da própria ideologia e até que ponto elas são capazes de considerar o lugar da política no mundo de Deus?

Percebam como cada visão política é descrita no livro: os libertários tendem a ver o governo como a fonte do mal. Os conservadores tendem a ver o caráter dinâmico da criação – isto é, mudança e desenvolvimento – como origem do mal. Ideologias coletivistas – por exemplo, socialismo e nacionalismo – tendem a desacreditar a liberdade individual ou outras comunidades alternativas, implicitamente identificando sua existência com o mal.

A política com “P” deve ser assunto mais e mais discutido pela Igreja brasileira, a fim de contribuir com o debate social nacional e, assim, promover cidadania, moldar o Estado e contribuir para o aprimoramento das instituições democráticas

Em cada um desses modelos políticos, os objetivos ganham vida própria. Koyzis explica que eles ficam em primeiro lugar, enraizados na crença secular predominante na autonomia humana, em que o ser humano determina o curso da própria vida, sem referência à vontade de Deus. No mesmo sentido, o autor segue explicando que esses objetivos se tornam deuses para os quais gente comum pode ter de ser sacrificada.

E mais: Koyzis demonstra como determinadas reações na defesa de uma ideologia política podem resultar em uma religião centralizada no homem, que conhecemos como humanismo secularista, o que reputamos como fonte de deterioração dos direitos fundamentais, posto que solapa sua fonte, o direito natural.

No mais, o livro trata da classificação das ideologias, como discerni-las, a mudança de significado de direita e esquerda ao longo dos anos, como a organização das ideologias funciona de forma bidimensional, razão essa que nem mesmo um modelo multidimensional consegue superar, e por qual motivo a classificação bidimensional não consegue explicar as diferenças religiosas que existem entre as várias ideologias.

É uma dica preciosa para todos os que querem entender, sob um ponto de vista da tradição reformada, como a política com “P” deve ser assunto mais e mais discutido pela Igreja brasileira, a fim de contribuir com o debate social nacional e, assim, promover cidadania, moldar o Estado e contribuir para o aprimoramento das instituições democráticas, na busca de soluções duradouras e do bem comum.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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