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Entrevista exclusiva com o Defalla, um dos maiores nomes do rock underground brasileiro
| Foto:
Defalla/Fernanda Chemale
O Defalla está de volta com a sua formação original

Anos 1980, Porto Alegre, Brasil… Enquanto o mundo começava a conhecer a mistura entre rock e funk, (americano, cara pálida), que o Red Hot Chili Peppers fazia, no sul do mundo uma banda trilhava o mesmo caminho, sem medo de experimentar a mescla do rock and roll com outros estilos.

O DeFalla teve início em 1984. O nome é uma homenagem ao compositor espanhol Manuel de Falla. Inicialmente, o grupo era formado por Edu K nos vocais, Biba Meira na bateria e Carlo Pianta no baixo. O trio participou, com as músicas “Instinto sexual” e “Você me disse”, da coletânea “Rock Grande do Sul”, lançada em 1986. Fizeram parte do disco outros nomes que se destacariam na música brasileira, posteriormente, como Replicantes e Engenheiros do Hawaii. Antes da gravação do primeiro LP, “Papaparty”, de 1987, Pianta deixou o grupo. O guitarrista Castor Daudt e o baixista Flu entraram para completar o que é, hoje, a formação clássica do Defalla.

Nessa época, o rock brasileiro começava a dar os seus primeiros passos, mais firmes, com bandas surgindo em todos os cantos do país. Como em todo segmento cultural, algumas se davam melhor, “comercialmente” falando, como Paralamas do Sucesso, Blitz e Legião Urbana. Outras tinham a mesma qualidade mas batalhavam no underground do rock nacional, como Picassos Falsos, Violeta de Outono, Hojerizah, O Último Número e o Defalla.

Biba acabou saindo da banda em 1989 e Edu em 1994. “A Biba não nos aguentava mais! Na verdade a gente nunca acabou a banda oficialmente, o que claramente caracteriza este retorno como (A Volta Dos Que Não Foram)”, brinca Edu. O Defalla continuou a tocar, com um novo vocalista, Tonho Crocco, que depois também cantaria na banda gaúcha Ultramen. A grafia do nome foi mudada para “D.Fhala”. Em 1995, eles lançaram o disco “D.Fhala Top Hits”, e, logo depois, entraram em “stand by”. No ano seguinte, Edu retomou os vocais e as atividades do grupo. Essa fase ficou marcada pela música “Popozuda Rock ‘n’ Roll”, uma espécie de sátira ao “funk carioca” que começava a tomar espaço nas rádios brasileiras.

A volta do Defalla

A banda se reuniu, no fim do ano passado, para um show especial onde tocaram, na íntegra, o seu primeiro disco lançado. Castor explica como se deu essa volta.”O nosso atual empresário, Leandro (Lelê) Bortholacci, armou um projeto que reúne bandas gaúchas para tocar um álbum na íntegra, no nosso caso o primeiro LP de 1987, “Papaparty”. A procura por ingressos foi tão grande que tivemos de fazer duas sessões, na mesma noite, e depois choveram convites para tocarmos pelo país todo, inclusive no Porão do Rock, em Brasília, e no Festival Se Rasgum, em Belém, no Pará. Descobrimos que estávamos com saudade, uns dos outros, muito afim de tocar novamente e até fazer novas músicas”, afirma. A química musical entre o grupo continua existindo, como afirma Edu K. “O mais legal foi que, depois de mais de 22 anos sem tocar juntos, a magia veio à tona com força total no instante em que o primeiro acorde soou no estúdio de ensaio!”, conclui.

A mescla de estilos musicais, característica marcante do grupo, continua. “Temos influências bem diversas e ecléticas. Eu tento escutar de tudo. Embora eu tenha a preferência pelo Rock mais tradicional, old school, também curto funk, fusion, jazz-rock e rock progressivo, que são considerados palavrões ofensivos há anos, mas eu não me importo, gosto é gosto. Posso estar escutando o novo do Mastodon e logo depois um Genesis antigo, fase Peter Gabriel, flui naturalmente”, explica Castor. “Com o passar do tempo a gente adquire uma nova visão sobre tudo o que escutamos e vivemos. Sempre fomos abertos ao que está em nossa volta. Então, isso é incorporado na música e na maneira de ver a vida. No momento em que nos reunimos pra compor, tudo pode acontecer. E isso é uma lei da banda”, acrescenta Flu.

Os fãs, por outro lado, nunca abandonaram o Defalla, mantendo o seu nome entre as grandes bandas do rock brasileiro. “Existem fãs que viajam de longe para acompanhar os nossos shows. Aparecem novos amigos no Facebook, um pessoal leva camisetas antigas, materiais raros pra gente autografar, é muito legal mesmo”, explica Castor. A nova geração, que está conhecendo a banda após essa volta aos palcos, também se faz presente. “Existem fãs que nunca tinham visto um show nosso ao vivo, e ficam literalmente ‘chapados’ depois, sem palavras”, conta o guitarrista. Segundo Flu, isso mostra que as pessoas entendiam a forma de ser do Defalla. “Tirando o sentimento nostálgico, acho importante nos alertar da importância da nossa estrada. Fomos sempre informais com a nossa carreira. Sempre deixamos rolar naturalmente o que aparecia. E saber que tem gente que entendeu é importante”, explica.

A grande expectativa, nessa volta da banda, é a perspectiva de lançamento de material novo, com músicas inéditas. “Ensaiamos em um estúdio, aqui em Porto Alegre, e gravamos esse ensaio. Foram três dias tocando e compondo. Temos 8 horas de gravação. Essas gravações estão com o Edu. Vamos agilizar uma demo à partir disso”, explica Biba. Além disso, a reestreia da banda nos palcos foi gravada pela produtora Zepellin Filmes e deve ser lançada no segundo semestre. Não existe uma data definida para o lançamento do CD, mas a banda acredita que isso possa acontecer, também, até o fim deste ano.

Marcos Anubis/Arquivo
Defalla no show “Rock na Estação”, realizado no ginásio do Círculo Militar em 1988

Apresentação histórica em Curitiba

A relação da banda com Curitiba sempre foi intensa. Em 1988, o ginásio do Círculo Militar, chamado Palácio de Cristal, recebeu a festa de comemoração dos 2 anos da saudosa rádio Estação Primeira. No show tocaram Defalla, Mulheres Negras, Nenhum de Nós, Replicantes e o IRA!. “Lembro deste show, foi muito legal. Gostamos muito de Curitiba e é sempre um enorme prazer tocar aí. Nesta época, nos anos 80, sempre fazíamos shows com o Replicantes e o Nenhum de Nós, era como um ‘circo gaúcho’ na estrada, uma grande zona. Gostei muito da apresentação do Mulheres Negras, neste dia, também. E o IRA! é o IRA!, né? Sem comentários”, relembra Castor. “Eu só me lembro das festas! Curitiba, nos anos 80, era f…!”, completa Edu.

Fazendo um paralelo do começo da banda com os dias de hoje, a diferença é flagrante, no contexto geral da música no país. “Tudo mudou! A gente começou quando nem existia uma visão de indústria para as bandas independentes”, relembra Edu. Segundo Flu, tudo era mais improvisado, experimental, até pela pouca idade de todos. “Sempre acreditamos em criar um som com personalidade e, por isso, acabamos criando discos com sonoridades esquisitas”, explica. Tínhamos também o Edu K que sempre surpreendia com as suas vestimentas e performances inusitadas. Isso nos tornou os ‘louquinhos’. Hoje a gente ri muito dessa época e vemos que tudo está muito mais careta. Continuamos sendo esquisitos, de maneira geral, e o mundo está cada vez mais institucional e coxinha”, conclui Flu.

As músicas do grupo, feitas há mais de 20 anos, possuem uma pegada rock and roll atemporal. “Elas soam atuais pois foram feitas à frente do seu tempo, nos anos 1980. Foram feitas visando o futuro. E o futuro finalmente chegou!”, explica castor.

A perspectiva de ouvir ao vivo, novamente, alguns clássicos do rock nacional como “Não me mande flores” e “Repelente” anima qualquer fã. Como a banda planeja lançar um CD com músicas inéditas, resta esperar para ver como está a “fervura” do caldeirão sonoro chamado Defalla. Certamente a temperatura está subindo.

Confira 3 vídeos do show que marcou o retorno da banda, publicados neste canal no Youtube.

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