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Na Era Digital, a reputação voa na velocidade do pensamento. E todos estão de olho.
Na Era Digital, a reputação voa na velocidade do pensamento. E todos estão de olho.| Foto: THINKSTOCK

Nesta terça-feira (10), o governador de Nova York Andrew Cuomo renunciou ao cargo após uma série de acusações de assédio sexual. Lendo a notícia, veio à minha memória o kompromat, termo fruto da abreviação da frase "material comprometedor" em russo. Geralmente, a tática se refere a informações prejudiciais utilizadas para danificar a imagem de um político, empresário ou figura pública de destaque. O “dossiê” geralmente é utilizado não apenas para comprometer publicamente o alvo, mas também para controlá-lo, por meio de chantagens. Por vezes, as acusações são falsas, com imagens e vídeos forjados. Em outros casos, os fatos relatados são reais. Em ocasiões não menos frequentes, os próprios agentes infiltram alguém na vida do alvo para levá-lo a uma conduta reprovável. Não sabemos se esse é o caso de Cuomo. O governador nega as acusações. Mas, após uma série de denúncias e intensa pressão política, inclusive de aliados, ele preferiu deixar o cargo.

Podemos dizer que o kompromat é uma das ferramentas geopolíticas mais poderosas, capaz de devastar a reputação de grandes figuras em minutos. Um exemplo categórico foi o caso do ex-presidente Donald Trump, talvez campeão nesses casos. Os relatos traziam supostas evidências de negociações escusas com prostitutas e laços financeiros nebulosos. O material constava de um dossiê reunido por um ex-oficial da inteligência britânica. Ainda que as acusações não tenham sido efetivamente comprovadas, o estrago foi feito e trouxe muito desgaste, que é o objetivo da estratégia.

Outro caso mais recente foi da última “surpresa de outubro” americana, quando Hunter Biden, filho do atual presidente Joe Biden, teve supostas imagens suas vazadas na internet, com conteúdo sexual e de drogas. Rudoph Giuliani, ex-prefeito de Nova York e advogado de Trump, tentou usar as informações às vésperas das últimas eleições americanas, mas a mídia decidiu não abordar o caso, com a exceção do jornal New York Post, que teve seu perfil bloqueado nas redes sociais devido à publicação. Outra figura importante que hoje mesmo se viu envolvido em escândalo dessa natureza foi um membro da família real britânica. Príncipe Andrew, segundo filho da rainha Elizabeth, foi processado ontem (9), em Nova York, por abuso de uma menor. O fato teria ocorrido cerca de vinte anos atrás.

Agora, é verdade que uma figura pública dada a excessos e vícios se torna alvo fácil nas mãos de seus opositores, que podem utilizar contra eles as honey traps, também conhecidas como honey pots, ou seja, as “armadilhas de mel”, numa analogia aos insetos que são atraídos pelo mel e nele ficam grudados. Nesta estratégia, a vítima é levada a um relacionamento sexual comprometedor, criando a oportunidade perfeita para a chantagem ou difamação. Por isso, são muito comuns, nos elevados círculos do poder, as festas restritas, regadas a bebidas e garotas de programa. Muitas vezes, trata-se de uma grande cilada. O evento é devidamente documentado, produzindo abundante material comprometedor, que futuramente poderá ser usado para destruir a imagem de alguém ou controlá-lo, levando-o a obedecer a ordens externas.

Há alguns casos exemplares na história. Alguns estudiosos acreditam que Mata Hari, uma famosa dançarina exótica holandesa, foi na verdade uma espiã que se utilizou das armadilhas sexuais para se aproximar de oficiais alemães e franceses na época da Primeira Guerra Mundial. Apesar de ainda existirem dúvidas sobre a validade das acusações, ela foi julgada e condenada à morte em 1917, na França, acusada de espionagem e de atuar como agente dupla.

Imagine quantos poderosos mundo afora podem estar, hoje mesmo, sendo chantageados por documentos como esses, tomando decisões aparentemente contraditórias, incompreensíveis, controlados por chantagens. Num mundo de smartphones, webcams e redes sociais, qualquer deslize pode se transformar num escândalo, derrubar um governador e até um príncipe. Na era da onipresença das câmeras, todo cuidado é pouco, como alerta Mario Rosa, no livro “A Era do Escândalo: lições, relatos e bastidores de quem viveu as grandes crises de imagem”. Fica a dica de leitura.

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