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O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e os senadores americanos Richard Blumenthal e Lindsey Graham em Kiev, em julho de 2022.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e os senadores americanos Richard Blumenthal e Lindsey Graham em Kiev, em julho de 2022.| Foto: Divulgação/Presidência da Ucrânia.

Todos sabem hoje que o argumento principal apresentado pela Rússia para invadir a Ucrânia (ou “fazer uma operação militar especial”, como dizem os russos) foi impedir que o país passasse a integrar a OTAN. Putin sabia que estava diante de uma contagem regressiva. Ainda que Zelensky não tivesse entrado com um pedido oficial para integrar a aliança ocidental, o líder russo estava ciente que, caso isso acontecesse, uma investida contra Kiev faria com que fosse acionado o Artigo 5 da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Segundo o texto, os países membros do grupo “concordam que um ataque armado contra um ou mais deles na Europa ou na América do Norte deve ser considerado um ataque contra todos eles”. Dessa maneira, caso Kiev fosse admitida no grupo, uma investida russa contra ele acionaria todos os 32 países do tratado contra Moscou, o que muito provavelmente iniciaria uma 3ª Guerra Mundial.

O fato de a Ucrânia ainda não integrar a OTAN evita um cenário catastrófico como esse. Mas, e se eu dissesse que uma resolução recente do Senado americano pode mudar isso tudo, fazendo com que, mesmo não integrando a aliança ocidental, os 31 países da OTAN estariam prestes a declarar uma guerra aberta contra a Rússia, colocando em perigo a segurança global?

Poderia acontecer um desastre ou ataque contra a usina nuclear de Zaporizhzhia, que completou 16 meses ocupada pelos russos.

Entenda o contexto do novo problema. No dia 16 de junho, Putin anunciou que armas nucleares táticas (menos destrutivas) estavam sendo transferidas para a Bielorrússia. Em reposta, o presidente americano afirmou que a atitude era completamente irresponsável. Isso levou os senadores Lindsey Graham (republicano) e Richard Blumenthal (democrata) a apresentarem uma resolução propondo que ações da Rússia que conduzam a uma contaminação radioativa no território dos aliados seja considerada um ataque direto à OTAN, ativando, dessa forma, ativando o Artigo 5 da aliança e abrindo caminho para uma 3ª Guerra Mundial.

O problema é que não é apenas o uso das armas nucleares táticas armazenadas na Bielorrússia que poderia levar a este cenário. A preocupação atual está no fato de que poderia acontecer um desastre ou ataque contra a usina nuclear de Zaporizhzhia, que completou 16 meses ocupada pelos russos. Zelensky tem dito que Moscou poderia realizar um “ataque terrorista” contra a usina. Isso desencadearia um caos radioativo que traz à memória o desastre acontecido em Chernobyl em abril de 1986, que tinha o potencial para deixar a Europa completamente inabitável. Isso porque, alguns dias após a explosão, especialistas descobriram que o núcleo do reator ainda estava derretendo, o que poderia gerar uma nova explosão, com capacidade de destruir toda a usina, danificando os outros três reatores do local.

Estaria o mundo prestes a presenciar um novo incidente do Golfo de Tonquim, em 1964, que deu aos EUA a justificativa para entrar na Guerra do Vietnã?

O físico nuclear Vassili Nesterenko afirmou que essa segunda explosão poderia atingir uma potência de até 5 megatons, deixando todo o continente europeu inabitável por centenas de milhares de anos. Veja o tamanho do pesadelo que retornou ao mundo agora. Quem poderia imaginar que, quase 40 anos depois, estaríamos vivendo o mesmo perigo?

O cenário ficou ainda mais tenso quando, no final do mês passado, Zelensky afirmou que seus serviços de inteligência identificaram que as tropas russas instalaram objetos semelhantes a explosivos no telhado de várias unidades de energia da usina nuclear de Zaporizhzhia. O problema é que isso abre margem para um ataque de bandeira falsa por parte de ambos os lados. Os russos poderiam destruir a usina como medida de retaliação, e culpar a Ucrânia. Os ucranianos, por sua vez, poderiam explodir a usina e colocar a culpa em Moscou. Ou até mesmo os Estados Unidos poderiam destruir as estruturas (talvez como fizeram com o gasoduto Nord Stream, segundo Putin tem defendido), culpar os russos e usar a situação para justificar a entrada da OTAN no conflito. Vejam que loucura.

Tudo fica ainda mais tenso quando lembramos que recentemente foi destruída a usina hidrelétrica de Kakhovka, gerando prejuízos enormes à Ucrânia. Na ocasião, houve uma troca mútua de acusações entre russos e ucranianos. Pode acontecer a mesma coisa com a usina nuclear de Zaporizhzhia. Seria algo de proporções apocalípticas.

Estaria o mundo prestes a presenciar um novo incidente do Golfo de Tonquim? Essa foi a operação de bandeira falsa, acontecida em 1964, que deu aos EUA a justificativa para entrar na Guerra do Vietnã. Será que a usina de Zaporizhzhia será o estopim para a OTAN a entrar diretamente no conflito? Será que isso conduziria o mundo à 3ª Guerra Mundial? Espero que não. Que Deus nos proteja.

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