Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Danilo de Almeida Martins

Danilo de Almeida Martins

O lado oculto da fertilização in vitro

Um diálogo desconcertante e seu desfecho repugnante

O lado oculto da fertilização in vitro: embriões congelados, descartáveis e mercantilizados revelam o vazio ético da promessa de vida. (Foto: Imagem criada utilizando Chatgpt/Gazeta do Povo)

Ouça este conteúdo

- Oi, tudo bem? Como você está?
- Estou com frio. E você?
- Eu também. Aqui e muito frio né?
- É! 196 graus negativos é, no mínimo, desagradável! Disseram que iríamos para um lugar bem quentinho e acolhedor, mas acho que a gente deu azar, né?
- Olha, infortúnio foi o que aconteceu a alguns dos meus irmãos. Enquanto estávamos naquela plaquinha de vidro, vi que uns deles foram jogados fora, você acredita?
- É mesmo! Isso aconteceu com muitos dos meus irmãos também! 
- Estranho, né? Disseram que aqui era uma clínica onde se geraria a vida, mas só alguns poucos é que tiveram a sorte de serem guardados aqui, como nós…
- É! Embora aqui seja gélido, é melhor do que ser descartado. Temos muita sorte de estarmos crio… crio… Como é que chama mesmo?
- Criopreservados.
- Isso mesmo! Estamos com frio, mas pelo menos estamos vivos! À propósito, qual é sua história?
- Meus pais estavam com dificuldades para engravidar e o médico disse a eles que a FIV era o único jeito de resolver a situação. 
- Ué? Os médicos não indicaram a Naprotecnologia ou outros métodos?
- Não. Eles preferiram vender o sonho da paternidade/maternidade a R$ 50.000 cada ciclo, do que ensinar que há outras possibilidades para esses casais que tentam engravidar.
- Meu Deus! Que triste! E saber que só em 2023, ano em que a gente veio parar aqui, mais de 107 mil amigos também foram congelados.
- Mais triste ainda é saber que, ano que vem, após 3 anos, a qualquer momento, poderemos ser descartados no lixo ou ser destinados a alguma pesquisa científica.

VEJA TAMBÉM:

- Mas será que ninguém notou que as pesquisas com células tronco embrionárias têm problemas seríssimos e que os resultados são extremamente pífios se comparados aos das células tronco adultas?
- É. Ninguém fala nisso. Ainda mais depois que, em 2008, o STF liberou essa prática. Após três anos, nosso destino é o descarte ou algum laboratório. Para você ter uma ideia do descaso, naquele julgamento, um dos julgadores se referiu a nós como “lixo genético”. Dá para acreditar?
- Não é possível! Mas ninguém falou para eles sobre Thaddeus Daniel Pierce, nosso amigo que ficou congelado por 31 anos e nasceu perfeitamente? E Molly Everette Gibson, que ficou 27 anos aqui, como nós?
- Acho que não.
- É muita indiferença, né? Será que nossos pais têm consciência da nossa situação?
- Olha, é difícil saber até que ponto eles se informaram sobre isso tudo. Muitos estão emocionalmente abalados quando decidem fazer isso, outros não têm o mínimo conhecimento do que estão nos causando, outros acham que têm o direito de escolher até a cor de nossos olhos e há até mesmo aqueles que, infelizmente, pensam que não somos vida, apesar de termos nosso próprio genoma, inédito, original e único.
- Snif, snif, snif.
- Por que você está chorando?
- Acabei de descobrir que meus pais fazem parte deste último grupo que você citou.
- Ué, como você sabe disso?
- Eles acabaram de comprar um artefato em uma empresa australiana especializada em joias afetivas, também chamadas de biojoias, que nos coloca em um pingente para desfilar por aí comigo, como uma espécie de um lúgubre troféu.
- O quê???
- É. Infelizmente é isso mesmo. Chegamos ao cúmulo de transformar nossas vidas – únicas e irrepetíveis – em um simples ornamento, um funesto adorno estético que revela a pequenez daqueles que tinham o dever de cuidar, mas que, ao revés, objetificaram nossas vidas.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.