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Jornalistas discutem o impacto da tecnologia na comunicação no Hacktown 2023 que aconteceu de 17 a 20 de agosto em Santa Rita do Sapucaí (MG).
Jornalistas discutem o impacto da tecnologia na comunicação no Hacktown 2023 que aconteceu de 17 a 20 de agosto em Santa Rita do Sapucaí (MG).| Foto: Marcelo Gripa

Aconteceu na semana passada a sétima edição do Hacktown 2023, o principal festival independente de inovação, criatividade e tecnologia na América Latina. Sediado em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais, o evento ocorreu ao longo de quatro dias (de 17 a 20 de agosto) e reuniu mais de 30 mil pessoas. Na programação, desde assuntos em alta, como o impacto da inteligência artificial, a adoção da agenda ESG e tópicos de empreendedorismo, até temas menos óbvios em eventos do tipo, como educação, arte, cultura e felicidade.

Além do conteúdo em si, o Hacktown é especialmente interessante por alguns motivos. Primeiro, porque é um festival 100% brasileiro que acontece fora do eixo Rio-São Paulo; segundo, porque se espalha por múltiplos locais simultaneamente, de forma descentralizada (tem palestra em restaurante, em ginásio, em escola e até em antiquário). Terceiro, porque estimula o contato direto dos participantes com o dia a dia de uma cidadezinha pacata com cerca de 40 mil habitantes.

Mas não se deixe enganar pelo tamanho. Santa Rita do Sapucaí é considerada um berço da inovação no estado e tem ligação com a tecnologia desde a década de 1960. Há um parque tecnológico que reúne mais de 150 empresas e fomenta o ambiente de geração de negócios. O Inatel - Instituto Nacional de Telecomunicações, centro de ensino, pesquisa e desenvolvimento de inovação, funciona na cidade e é um exemplo de como o local se tornou propício para pensar futuros.

Ideias de futuros

O Hackatown 2023 produziu mais de 600 palestras e 100 painéis em 10 palcos. Conforme a proposta do festival, vi um pouco de muita coisa e compartilho, abaixo, algumas das mensagens que registrei, tanto acompanhando os conteúdos, quanto conversando com as pessoas. Afinal, as conexões são o ponto alto do evento.

Valorize o capital humano

A palestra de Gustavo Brito, sócio e diretor global na IHN Stefanini, mostrou a necessidade de olhar para além da tecnologia no processo de transformação digital. Segundo ele, a chamada indústria 5.0 é caracterizada por três esferas que não têm a ver com a automatização de processos, característica marcante da indústria 4.0. São elas: o cuidado com a sustentabilidade (seguindo as boas práticas ambientais); a resiliência para formar empresas capazes de responder rapidamente a movimentos de mercado; e a capacidade de colocar as pessoas no centro do negócio, de forma que elas sejam mais valorizadas no pensar a inovação e possam tirar o melhor proveito do potencial da tecnologia. É uma nova forma de enxergar a gestão da organização, mais humanizada e menos burocrática.

 Gustavo Brito, sócio e diretor global na IHN Stefanini, em palestra no Hacktown 2023. Crédito: Marcelo Gripa.
Gustavo Brito, sócio e diretor global na IHN Stefanini, em palestra no Hacktown 2023. Crédito: Marcelo Gripa.

Crie espaços de inovação

Um exemplo prático disso são os programas de intraempreendedorismo, quando há incentivo para empreender dentro das empresas. A Garagem Unilever, por exemplo, é um hub dedicado a disseminar a inovação por toda a empresa e incentivar os colaboradores a pensar no futuro e dar ideias de produtos ou serviços. Desse exercício saiu uma inovação focada em corpos diversos: trata-se de uma cadeira de praia com tamanho maior do que o convencional, com o objetivo de promover acessibilidade e inclusão. A ideia, que contorna a limitação da infraestrutura nas praias, rendeu uma premiação no Festival de Cannes, principal festival de criatividade no mundo.

 Cadeira de praia em tamanho maior, uma das inovações criadas pela Garagem Unilever para promover maior acessibilidade e inclusão. Crédito: Marcelo Gripa.
Cadeira de praia em tamanho maior, uma das inovações criadas pela Garagem Unilever para promover maior acessibilidade e inclusão. Crédito: Marcelo Gripa.

Não force a adoção de tecnologia

A importância de ouvir as pessoas foi corroborada em outra palestra, esta dedicada aos rumos da indústria da realidade estendida (mistura de realidade aumentada e virtual), que tem nos óculos Apple Vision Pro seu principal garoto-propaganda. Segundo Aline Pina, líder de desenvolvimento de projetos de realidade estendida, tais dispositivos são valiosos para exponencializar as capacidades humanas, mas é preciso frear o interesse mercadológico e deixar que as pessoas escolham quando e como querem utilizá-los. "Falta mais entendimento humano", diz ela sobre a pressão da indústria para massificar um mercado que é incipiente e ainda tenta se provar, haja vista a tentativa mal-sucedida da Meta (ao menos até agora) de emplacar o metaverso.

Tiago Guimarães e Aline Pina em palestra sobre realidade estendida. Crédito: Marcelo Gripa.
Tiago Guimarães e Aline Pina em palestra sobre realidade estendida. Crédito: Marcelo Gripa.

Cuidado com o consumo de conteúdo na era do ChatGPT

O impacto da tecnologia na comunicação também ganhou espaço no Hacktown 2023. Uma conversa entre jornalistas evidenciou o risco de evoluirmos para o consumo majoritário de informações vindas diretamente de chatbots, como o ChatGPT e o Bard, em vez da tradicional curadoria de links fornecidos por meio dos resultados do Google. Como alertou Rafael Coimbra, editor-executivo de Conteúdos Digitais da MIT Technology Review, esse cenário poderia representar uma perda de referência do mundo real e o enviesamento da leitura do que acontece ao nosso redor.

Prepare-se para um país mais velho

Um outro recado de futuro dado no Hacktown 2023 tem a ver com a chamada economia da longevidade, que abrange todas as atividades de consumo de pessoas com mais de 50 anos. No Brasil, este mercado já movimenta R$ 2 trilhões por ano e deve crescer a passos largos considerando o envelhecimento da sociedade. A estimativa é que a população acima de 60 anos dobre nas próximas duas décadas. Para Mórris Litvak, fundador e CEO da Maturi, as empresas ainda não captaram a mensagem de se preparar para este futuro, que vai impactar o mercado de consumo e também a composição etária do ambiente de trabalho, que deverá ser ainda mais multigeracional do que hoje. "Daqui a 10 anos, vamos acordar e ver que o Brasil envelheceu e que não estaremos preparados", previu.

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