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Deltan Dallagnol

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Justiça, política e fé

Evidências

A perseguição à direita é teoria da conspiração ou existe mesmo? 

(Foto: Al Amin Mir/Unsplash)

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A direita brasileira e seus líderes, como Jair Bolsonaro, são perseguidos por um conjunto de forças que envolve o governo Lula, o STF e a imprensa? Muitos dizem que não, alegando que vivemos em um Estado Democrático de Direito, com normalidade institucional e respeito às regras do jogo. Para essas pessoas, a suposta perseguição política não passa de uma teoria da conspiração ou uma cortina de fumaça para encobrir malfeitos de políticos investigados pelo STF ou por outros órgãos do Judiciário. 

Nos últimos dez anos, surgiu no Brasil um movimento de direita disposto a enfrentar um sistema político corroído por corrupção e fisiologismo. Esse movimento ameaçou grupos que há décadas controlavam o país, especialmente os que foram flagrados na Lava Jato se lambuzando com dinheiro público. Dentre eles há não só gente da esquerda, mas também do famoso centrão. A eleição de Bolsonaro, “contra tudo que está aí”, simbolizou uma revolta popular contra um sistema podre.  

O movimento popular de direita - com suas correntes liberal, conservadora, evangélica, olavista e militarista - emergiu para combater esse “sistema”, que usa a política para se servir do Brasil, e não para servir o Brasil. No entanto, o sistema não caiu. Apenas se reorganizou e voltou com força total, mobilizando contra a direita a maior máquina de perseguição política desde a redemocratização. Nesta semana, após muito estudo e reflexão, ministrei uma aula magna intitulada “A perseguição contra a direita no Brasil”.  

Minha resposta à pergunta inicial deste artigo foi clara: sim, a direita no Brasil é perseguida e mostrei dez frentes em que essa perseguição acontece. Entre elas, o uso da Justiça Eleitoral e criminal para neutralizar e silenciar líderes políticos da direita, a intimidação judicial de parlamentares por meio da violação da imunidade parlamentar, a perseguição a financiadores e apoiadores e a censura de críticos do establishment nas redes sociais. Você pode conferir aqui a aula gratuita em que explico as dez frentes de perseguição e as cinco reações possíveis da direita. 

Mas se há uma perseguição organizada contra a direita, de onde ela vem? Quem está por trás dessa repressão? Quais são as razões para que isso ocorra? A ideia de que há um plano central articulado contra a direita não parece uma teoria conspiratória? A perseguição à direita não se dá por meio de um único plano arquitetado em uma sala escura por um vilão careca e maquiavélico, ainda que algumas pessoas protagonizem ou tornem mais visível essa perseguição.  

O que existe, na verdade, são diferentes grupos poderosos, cada um com seus próprios interesses, que convergem na mesma direção: a destruição da direita. Neste artigo, pretendo mostrar que, embora a perseguição à direita não tenha um comando central, há uma convergência de interesses entre quatro grandes grupos poderosos da sociedade, que atuam com o mesmo propósito: eliminar a direita da arena política.  

Essa aliança não precisa sequer ser articulada diretamente, e muito provavelmente não é — seus interesses são tão convergentes no ponto da perseguição à direita que a cooperação entre eles ocorre de maneira espontânea. Exploraremos algumas razões ou interesses, de modo simplificado (a realidade é sempre muito mais complexa), que motivam esse que é o maior movimento de repressão política desde a redemocratização.

1. A esquerda: o embate ideológico 

O primeiro grupo interessado na perseguição à direita é, naturalmente, a esquerda, que tem um antagonismo ideológico radical com a direita em praticamente todas as áreas: da economia às pautas de costumes. Enquanto a direita privilegia o indivíduo, a liberdade pessoal e os direitos fundamentais, a esquerda é coletivista, universalista e busca impor a igualdade de resultado a qualquer custo. Além disso, a nova direita tem um forte compromisso com a guerra cultural, buscando enfraquecer a hegemonia esquerdista na mídia, no entretenimento e na academia.  

Historicamente, a esquerda tem uma tendência maior ao autoritarismo, pois considera aceitável ultrapassar certos limites para alcançar seus objetivos. Mensalão e Lava Jato mostraram que a corrupção era admissível para a esquerda alcançar seus fins. Os dois primeiros anos do governo Lula 3 são mais uma prova concreta disso. O uso do aparato estatal para censurar, prender adversários políticos e intimidar opositores não é um fenômeno novo — é uma prática consolidada da esquerda mundial quando atinge o poder.

2. O centrão fisiológico: a perpetuação dos mecanismos da velha política 

Outro grupo que tem interesse direto na perseguição à direita é o centrão fisiológico, um bloco político movido pela troca de favores, emendas bilionárias, cargos estratégicos, fisiologismo e esquemas de corrupção. Casos como Mensalão, Petrolão e Orçamento Secreto ilustram bem essas práticas. As emendas são hoje seu combustível vital: permitem que o parlamentar crie e mantenha um curral eleitoral, por meio do apoio de prefeitos e vereadores das cidades que recebem recursos.  

A direita conservadora representa uma ameaça direta ao modelo de perpetuação no poder do centrão, pois é antissistema por natureza. Diferente da direita tradicional, mais pragmática, negociadora ou até fisiológica, a nova direita tem um público que rejeita abertamente o sistema político atual. Seus políticos não são impulsionados por emendas, mas por ideias, pela interação nas redes sociais, por likes e compartilhamentos. 

Isso é um problema para o centrão, que sobrevive justamente da falta de convicções ideológicas e da flexibilidade para apoiar qualquer governo ou político em troca de benefícios. O avanço da direita é o retrocesso não só da esquerda, mas do centrão. Além disso, para o centrão, quem vota com base em princípios é incontrolável. O centrão precisa de um Congresso passivo, disposto a negociar qualquer coisa por cargos e emendas — exatamente o oposto do que a nova direita representa.

3. O STF: autoproteção e ativismo judicial 

A terceira grande força envolvida nessa perseguição é o Supremo Tribunal Federal. Entre os ministros, há aqueles que, citados em delações premiadas e investigações, sentiram-se ameaçados pelo avanço do combate à corrupção durante a Lava Jato. Um exemplo claro disso é Dias Toffoli, mencionado tanto na delação de Sérgio Cabral quanto na de Marcelo Odebrecht.  

A nova direita, que não negocia, é um perigo para esses atores e o inquérito do fim do mundo nasceu para protegê-los. Logo após instaurado, censurou a matéria sobre o “amigo do amigo do meu pai”. Poucos meses depois, determinou a suspensão das investigações da Receita Federal que atingiam as famílias dos ministros. Nesse contexto, faz sentido a perseguição à Lava Jato e às forças antissistema, assim como reabilitar politicamente os aliados da esquerda e do centrão. 

Além da autoproteção, há outro fator fundamental: a visão progressista e o ativismo judicial. Dos onze ministros, sete foram indicados pelos governos do PT. A contaminação ideológica não deve gerar surpresa. A nova direita, predominantemente conservadora, é uma ameaça à sua visão de mundo. Diante de um congresso conservador, alguns entendem que cabe ao STF “empurrar a história” - veem-se como “ungidos”, como os chamaria Thomas Sowell, e têm a pretensão de impor sua visão de mundo, minoritária, sobre a maioria conservadora. 

Por fim, há quem veja na nova direita um risco para a democracia, porém, passou a endossar investigações, processos e ações que ferem de morte parte essencial da democracia, que é o respeito ao império da lei e aos direitos fundamentais. Se querem genuinamente defender a democracia, o que fazem é feri-la de morte simultaneamente. Como as motivações se misturam, essa bandeira acaba sendo usada também para neutralizar opositores e consolidar uma agenda ideológica.

4. A grande mídia: dinheiro público e alinhamento ideológico 

A última grande força interessada em sufocar a direita é a grande mídia governista e progressista. Seu incentivo é financeiro e ideológico.   

Para se ter uma ideia, a Globo, a emissora mais alinhada ao governo, recebeu mais de R$ 177 milhões do Palácio do Planalto em menos de dois anos — mais do que Bolsonaro destinou em quatro anos inteiros. A mudança da Lei das Estatais deu ao governo Lula R$ 20 bilhões para gastar em publicidade. A dependência financeira da grande mídia em relação ao governo compromete sua independência editorial, resultando em um jornalismo enviesado, seletivo e por vezes manipulador. 

Além disso, 80% dos jornalistas brasileiros se identificam como de esquerda, segundo pesquisas. Grande parte da mídia age por alinhamento ideológico, tentando moldar a opinião pública contra a direita e consolidar narrativas favoráveis à esquerda, culpando “memes” pela alta do dólar ou enquadrando o aborto como direito reprodutivo. Some-se que Bolsonaro cortou drasticamente as verbas federais da cultura, deixando a classe artística, majoritariamente progressista, mais furiosa.

A última trincheira 

A última trincheira da direita contra sua perseguição é a força das suas ideias e a disseminação livre de seu discurso nas redes sociais. Ali, ela ainda domina o debate público. Isso explica o esforço desesperado da esquerda para “regulamentar as redes”, expressão que tem sido usada como um eufemismo para a implementação da censura e de mecanismos que favorecem a disseminação da visão do governo nas redes sociais. 

Existe hoje uma regulação do discurso nas redes brasileiras - tanto nas leis penais como no Marco Civil da Internet - e é claro que tudo pode ser aperfeiçoado. Há modelos mais avançados que foram adotados fora do Brasil, como na União Europeia. Contudo, a proposta de projeto de fake news apresentada em 2013, que sequer tratava de “fake news”, colocava nas mãos do governo um imenso poder para direcionar o debate das redes conforme seu interesse. Era um projeto de censura. 

A perseguição à direita é uma realidade e não uma teoria conspiratória, e as redes sociais são a última trincheira de proteção da direita. O líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães, disse que “nós não podemos ir para a eleição de 2026 sem lei nessa área. Sem lei, estamos ferrados”. Se eles conseguirem essa lei na forma como havia sido proposta pelo comunista Orlando Silva, relator do projeto, é a liberdade de expressão que estará ferrada. E, com ela, a direita.

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