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Você acordou cedo hoje? Espero que sim, e que tenha trabalhado bastante para pagar seus impostos no fim do mês. Afinal, os dois maquiadores lotados no gabinete da deputada do PSOL, Erika Hilton, não vão se pagar sozinhos. Tampouco a cirurgia no nariz da deputada — feita por “questões de saúde” e custeada com verba de ressarcimento da Câmara dos Deputados — ou sua recente viagem à Europa, onde foi discursar no Parlamento Europeu sobre a comunidade LGBTQIA+, com um conveniente pulinho em Paris para o show da diva pop Beyoncé, de quem a deputada é fã.
Sim, é isso mesmo que você leu: a deputada Erika Hilton contratou dois maquiadores, um com salário de R$ 2 mil e outro de R$ 9,6 mil, para atuarem como seus "secretários parlamentares". Nas redes sociais, ambos se apresentam como maquiadores e especialistas em moda e beleza, ostentando sessões de fotos com Hilton e outros famosos para capas de revistas chiques como Vogue e Glamour, além de eventos com celebridades. Hilton chegou a alegar que os maquiadores a acompanhavam em comissões e sessões plenárias na Câmara, mas era mentira: ex-funcionários disseram ao portal Metrópoles que ambos foram contratados exclusivamente para maquiá-la.
Infelizmente, o caso da deputada diva pop fake é apenas mais um em uma longa lista de escândalos envolvendo um mal brasileiro arraigado: o patrimonialismo — aquela confusão entre o público e o privado que sempre marcou a atuação das elites políticas e empresariais do país e nos legou os maiores escândalos de corrupção da história, como o Mensalão, o Petrolão e, agora, o Aposentão do INSS. A seguir, relembro outros 5 grandes casos de patrimonialismo descarado que chocaram o Brasil e… que ficaram impunes, fazendo a gente se sentir otário:
1) Escândalo dos cartões corporativos no governo Lula 2 (2007–2008)
Em 2008, vieram à tona os gastos abusivos com cartões de crédito corporativos do governo federal — instrumento criado para cobrir despesas emergenciais. Descobriu-se que várias autoridades usavam os cartões para bancar despesas particulares, completamente fora da finalidade pública. A então ministra da Igualdade Racial de Lula, Matilde Ribeiro, gastou R$ 171 mil, em 2007, incluindo R$ 110 mil com aluguel de carros e até despesas em free shop (R$ 461). Já Orlando Silva, então ministro do Esporte, pagou até tapioca com o cartão oficial e, ao ser investigado, devolveu cerca de R$ 30 mil aos cofres públicos para evitar a demissão. O caso terminou em CPI, e Matilde Ribeiro pediu exoneração do cargo. Não há registro de punições criminais por conta do escândalo.
2) Farra das passagens aéreas na Câmara e no Senado (2009)
Centenas de deputados federais e senadores de diversos partidos — entre eles líderes como Rodrigo Maia, Michel Temer, Henrique Eduardo Alves e ACM Neto — foram flagrados usando indevidamente suas cotas parlamentares de passagens aéreas (pagas com dinheiro público) para viagens de lazer ou de terceiros. Em vez de utilizarem os bilhetes exclusivamente para deslocamentos oficiais a suas bases eleitorais, muitos bancaram viagens de familiares, amigos e até celebridades, inclusive ao exterior. Um dos casos mais escandalosos envolveu o deputado Fábio Faria, que custeou com verba da Câmara viagens de sua então namorada, a apresentadora Adriane Galisteu, além de atores globais, para um carnaval fora de época. Segundo o Ministério Público, o prejuízo passou de R$ 68 milhões. Não há registros da punição de ninguém pelo escândalo até hoje.
3) Pagamentos de cabeleireiro para Dilma Rousseff com dinheiro de propina (2010–2014)
Mônica Moura, esposa do marqueteiro João Santana — responsável por algumas das campanhas eleitorais mais bem-sucedidas do PT — relatou em sua delação premiada à Procuradoria-Geral da República (PGR) que pagou despesas pessoais da ex-presidente Dilma Rousseff, como gastos com cabeleireiros e maquiagem. O casal era abastecido com dinheiro de corrupção desviado por empreiteiras como a Odebrecht, que fazia pagamentos por fora, em espécie, para bancar campanhas do PT. Segundo Mônica, ela pagou R$ 4 mil por mês durante um ano para a cabeleireira pessoal de Dilma, além de cerca de R$ 50 mil ao famoso cabeleireiro Celso Nakamura, que também a atendeu. O fato, aparentemente, não gerou nenhum tipo de punição criminal.
4) Empregada doméstica e motel pagos com dinheiro público (2011)
Aos 81 anos, o ex-deputado Pedro Novais assumiu o Ministério do Turismo no início do governo Dilma Rousseff, e escândalos de uso privado de verbas públicas em seu mandato de deputado logo vieram à tona. Descobriu-se que Novais reembolsou uma despesa de R$ 2.156 em um motel de São Luís (MA) com sua cota parlamentar — ele alugara uma suíte para uma festa privada e incluiu a nota fiscal na prestação de contas da Câmara. Além disso, revelou-se que, por sete anos, pagou sua empregada doméstica com dinheiro público, nomeando-a como secretária parlamentar em seu gabinete (com salário entre R$ 1,1 mil e R$ 2,2 mil). Um motorista particular dele também estaria na folha da Câmara. Novais acabou pedindo demissão e chegou a ser condenado por peculato, embora a sentença tenha sido anulada posteriormente por questões processuais — como quase sempre acontece no Brasil. Novamente, o resultado foi impunidade.
5) Aeroporto de Cláudio: Aécio Neves constrói aeródromo nas terras da família (2014)
Durante a campanha presidencial de 2014, veio à tona que Aécio Neves, enquanto governador de Minas Gerais, mandou construir um aeroporto no município de Cláudio (MG), dentro de uma fazenda de seu tio-avô, Múcio Tolentino. A obra, concluída em 2010 (fim do segundo mandato de Aécio), custou cerca de R$ 14 milhões em recursos públicos. O aeródromo, no entanto, permaneceu sem homologação da ANAC e teve uso essencialmente privado: as chaves do portão ficavam com os familiares de Aécio, e qualquer acesso à pista dependia de autorização da família. Reportagens indicaram que o próprio Aécio e parentes usaram o aeroporto para chegar às suas propriedades na região. Em resumo: construiu-se, com dinheiro do Estado, um aeroporto praticamente particular em área desapropriada do próprio parente do então governador. Aécio não sofreu qualquer punição.
Os desvios e a sua impunidade revoltam e contrastam com a “eficiência” nos casos em que pessoas da direita são perseguidas e punidas implacavelmente no STF. Resta saber o que vai acontecer com Erika Hilton… você acha que será punida, caro leitor? Conta para mim nos comentários e deixa eu dar a você a minha opinião: o pior que pode acontecer com ela é ser beneficiada, como André Janones foi recentemente, por um acordo muito favorável com o Ministério Público, que vai salvá-la de qualquer punição criminal. E agora me conta, otário leitor… ops, desculpem o ato falho… caro leitor: o STF tem lado?




