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A arte “de parquinho de diversões”
| Foto:
Jeff Koons/Em Nome dos Artistas
Escultura de Jeff Koons: três bolas de basquete boiando.

Fui a São Paulo dia desses e acabei entrando na mostra “Em Nome dos Artistas”, no Ibirapuera. No Pavilhão da Bienal. Passei boa parte de uma manhã vendo, pelo pouco que entendo do assunto, gente que é considerada bem representativa da arte contemporânea.

Tem um andar inteiro da exposição dedicado a Damien Hirst. Depois, gente de renome, como Jeff Koons, o popular ex-marido da Cicciolina, e outros que, apesar de importantes, ignorante que sou, não conhecia, como Cindy Sherman.

Na maior parte dos casos, são instalações. Objetos. Algumas estátuas. Outros meio indefiníveis. Como o Piu-Piu (sim, o passarinho do desenho animado) que Jeff Koons fez em aço inoxidável, parecendo uma bexiga de gás hélio (se isso é um mérito, realmente parece um balão de hélio. E realmente parece o Piu-Piu…).

A maior parte é bastante simples de ver. Não exige mais do que, digamos, 15 segundos. Como uma pia com as duas torneiras abertas… Ou um montinho de balas (docinhos, não projéteis) espalhadas no chão. Ou um monte de cabeças iguais de bonecos amontoadas num canto.

A rapidez com que se passa pelas salas, na verdade, diz muito, na minha modesta opinião, sobre o que a mostra é. Não há muito o que pensar sobre a maioria dos objetos. Alguns simplesmente não querem dizer muito, mesmo (o que pensar de uma torneira aberta? Ok, quando Duchamp fez a piada não era velha. Mas, agora?)

Outros pode ser que digam alguma coisa. Mas dizem as mesmas coisas de sempre. A reprodução infinita da indústria cultural. A massificação. A pornografia como obra de arte aceitável. A incomunicabilidade… Aquilo que qualquer um que já foi a uma Bienal fica entediado só de pensar que vai ver tudo de novo. O problema, na verdade, parece ser o de que ninguém ali quer “significar” nada.

No texto que fez para o caderno “Ilustríssima”, da Folha de S. Paulo, Tales Ab´Saber fala que parte do que se vê ali é uma “arte de parquinho de diversões”. Coisas que brilham. Que você vê e diz “Que divertido!” E só.

Tenho a impressão de que nos últimos 200 anos houve uma batalha para que a arte fosse “livre”. Cada geração, cada escola, tentava “quebrar” novas regras. Um século atrás, veio o fim do figurativismo. Abstracionismo. Depois o “ready made”. E quadros brancos sobre fundos brancos. E cada vez mais liberdade…

Mas o problema é que chegamos a um ponto em que todas as regras já foram quebradas. Por um lado, isso quer dizer que ficar fazendo arte para explorar limites pode simplesmente ser tolo – eles já nem existem mais…

Por outro lado, a liberdade conquistada nesse tempo todo, tenho impressão, deveria ser a base de algo. Deixe ver se sei me expressar. Se você quer liberdade, quer liberdade para fazer alguma coisa. Mas que coisa é essa, agora?

Não adianta só ser livre. Só “desconstruir”. É preciso usar esse ambiente livre para construir, também. Mas, nisso, parece que a maior parte do pessoal do “Em Nome dos Artistas” não está interessada.

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