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Chamar mulheres de “musas” é a triste vingança do machão
| Foto:
Wikimedia Commons
Maria Sharapova: não é “musa”, é uma baita tenista.

Normalmente coloco aqui ideias que li em algum lugar. Mas nada impede que eu diga o que eu penso, certo? Embora, obviamente, precise avisar antes que, como sei meu lugar, posso muito bem estar errado. Quem não pode?

Mas, ao ponto. Resolvi escrever esse post em primeiro lugar porque estou ficando velho. E, como consequência, mais rabugento. E algumas coisas, por isso, que antes só me incomodavam um pouquinho, agora realmente me deixam irritado.

Uma dessas coisas. Chamar alguma mulher de musa. Não no sentido de dizer que alguém é sua musa pessoal. Nada contra. As pessoas (e entre elas, claro, mulheres), nos inspiram.

O sentido que me incomoda é quando alguém põe numa notícia, por exemplo, uma mulher, profissional de alguma área, seja lá qual for, e decide que ela é “a musa” daquela profissão.

Ou, para deixar bem claro. Quando há eleições, por exemplo, sempre há uma notícia sobre quais são “as novas musas do Congresso”. Isso me deixa profundamente irritado.

Depois de tantas décadas de feminismo, será que não aprendemos absolutamente nada?

No caso das deputadas, por exemplo. Tanto se me dá se a fulana é bonita, arrumada ou charmosa. Ela chegou ao Congresso Nacional pelo grupo que representa, por defender essa aquela ideia. E tem o papel igualzinho ao do marmanjo ao lado dela.

Parece que os homens, com isso, estão querendo dizer que, embora sejam deputadas, e tenham uma posição que antes cabia só aos homens, na verdade, bem na verdade, o que importa delas, para nós, não são as ideias, nem o que elas defendem, nem o que são. E, sim, só o fato de serem bonitinhas.

Ou, em outro exemplo, Maria Sharapova. E, antes dela, Anna Kournikova. Duas belas (no sentido de competentes) tenistas. E mulheres bonitas, também, por que não?

Mas transformam as duas em musas e pronto. Os anos todos de esforço, treino, dedicação, o próprio talento. Tudo vai por água abaixo. Elas não são iguais a nós, homens, que merecemos ser louvados pelos valores que temos, pelo que somos. Não. Somos condescendentes com elas por causa de suas pernas (e de outras coisas que não ficaria bem nomear no blog, talvez).

Claro que todo mundo quer ser atraente. Claro que elas se esforçam por isso também. Mas veja o caso da estudante que ajudou a liderar uma rebelião no Chile e acabou virando “musa”. Parece que a todo momento, estamos percebendo, estamos interessados, quando se trata de mulheres, em saber qual é a sua aparência. O resto todo é secundário.

Agora elas podem ser tudo igual aos homens? Ok, podemos tolerar isso, diz o machista. Mas, no fundo, vamos tentar reduzi-las a um belo par de pernas.

É a triste vingança do pipoqueiro machão.

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