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Ideia da semana: acabar com as loterias pelo bem do país
| Foto:
Lafaiete do Vale/Arquivo/Gazeta do Povo
Mega Sena: será que ela vai contra a ética do trabalho?

O caso de Carlinhos Cachoeira fez com que se levantasse de novo no país, pela enésima vez, a discussão sobre a legalidade dos bingos. Além disso, levantou (em menor grau, como sempre) dúvidas sobre as loterias estaduais. Aqui mesmo, no Paraná, o bicheiro teria tentado se infiltrar para reativar a Serlopar, embora não tenha sido bem-sucedido. Dá para imaginar quais seriam os interesses dele.

O filósofo norte-americano Michael Sandel tem um opinião sobre o assunto. E uma opinião dura. Segundo ele, o Estado não deveria promover loterias públicas por vários motivos. Mas o principal deles é que, ao fazer isso, o governo está incentivando a corrupção e minando a ética do trabalho na população. Como assim? Vejamos…

Segundo Sandel, em um artigo intitulado “Against the state lotteries”, que literalmente seria traduzido por “contra as loterias estaduais”, o primeiro ponto a ser considerado é que o Estado é hipócrita nos EUA (e o argumento pode ser transferido para o Brasil) quando proíbe outros tipos de jogo de azar e mantém a loteria. Estimula o vício, e, além de tudo, estabelece um monopólio que lucra justamente com a proibição de que a iniciativa privada faça o mesmo. O Estado lucra com algo que sabe não ser o melhor.

Sandel critica também o investimento que os governos fazem nisso. Gastam com publicidade das loterias e, mais, colocam agentes para fazer o jogo no país todo. Curiosamente, diz ele, em bairros pobres podem ser encontrados mais agentes de loteria do que pessoas encarregadas de educação ou saúde pública.

E, aliás, esse é outro ponto: o Estado, sabendo que a loteria se torna uma (falsa) esperança para quem não está em boas condições financeiras, estabelece a maior parte de casas de apostas em bairros pobres. Assim, sabe que está lucrando com quem não tem dinheiro, às vezes, para gastar com outras coisas.

Segundo ele, muitos estados americanos se tornaram dependentes da loteria, em razão da receita que elas trazem, tirando justamente do que menos têm. E ele encerra o artigo com o seguinte trecho, que traduzo:

“Com estados dependentes do dinheiro, eles não têm escolha a não ser continuar a bombardear os seus cidadãos, especialmente os mais vulneráveis, com uma mensagem conflitante com a ética do trabalho, sacrifício e responsabilidade moral que sustenta a vida democrática. Essa corrupção cívica é o maior do que as loterias trazem. Ela degrada o ambiente público ao colocar o governo no papel de fornecedor de uma educação cívica perversa. Para manter o dinheiro correndo, os governos estaduais em toda a América precisam agora usar a sua autoridade e influência não para cultivar a virtude cívica, mas para vender falsa esperança. Eles devem convencer os seus cidadãos de que com um pouco de sorte eles podem escapar do mundo do trabalho ao qual apenas a má sorte os mantém presos.”
E você, o que acha de bingos e loterias?

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