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Livro da semana – Fama e Anonimato
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Divulgação
Talese: fãs no mundo todo.

Não são poucos os jornalistas que veem Gay Talese como um modelo. Seus livros vendem muito, sempre, e continuam a fascinar novas gerações de repórteres. Dá para entender.

Talese se especializou no “novo jornalismo”, aquela vertente que a partir dos anos 60 passou a relatar fatos reais usando técnicas de ficção. Como se fossem romances.

Há vários pais da criança. Tom Wolfe, Norman Mailer e Truman Capote se candidatam. Talese é outro que estava lá desde o começo. E esse “Fama e Anonimato” mostra justamente como ele começou a fazer esse tipo de narrativa.

Em livros futuros, Talese se concentraria em apenas uma história. Como a biografia do New York Times. Ou a revolução sexual nos EUA. Ou a máfia. Mas, aqui, encontramos vários pequenos textos.

Em dois deles, os maiores, é possível ver a característica que talvez mais tenha dado fãs a Talese. O esforço de ficar quanto tempo fosse necessário atrás de uma boa história para contar.

O primeiro é uma longa descrição da vida em Nova York. Em uma centena de páginas, Talese fala sobre tudo e mais um pouco da vida da cidade. Desde quantas vezes os novaiorquinos piscam até o funcionamento de instituições públicas da cidade.

Tudo na história é rápido. Cada assunto dura, no máximo, dois ou três parágrafos. Às vezes basta uma informação solta, uma frase, para contar uma história. O que interessa é a sucessão de imagens, que, juntas, dão um perfil da metrópole.

A impressão é de que Nova York, para Talese, é fascinante demais para caber num texto “quadrado”, numa narrativa formal. Não cabe num texto linear. É preciso contar parte por parte. E o leitor, juntando tudo na cabeça, terá ideia daquele caos.

A forma como meio de jornalismo. Uma boa tentativa.

No segundo texto, Talese narra a construção de uma imensa ponte em Nova York. O repórter fez questão de conviver com os operários no local da obra durante dias, semanas, meses. Até saber tudo que fosse possível para fazer a descrição.

O resultado é um trabalho minucioso que relata rebite por rebite, cabo por cabo, o trabalho de construção da ponte Verrazzano-Narrows. Com detalhes a mais no ponto em que um operário cai da ponte e morre. O que forma quase um conto á parte no meio do texto.

Mas o trecho mais famoso do livro talvez seja o perfil de Frank Sinatra. O cantor se recusou a dar entrevista para Talese. Restou ao repórter segui-lo onde possível, se hospedando nos mesmo lugares, falando com as mesmas pessoas, para descrevê-lo.

O perfil, “Sinatra está gripado”, é um clássico do jornalismo do século 20. Mesmo para quem não é fã, é quase uma referência obrigatória para quem quer fazer jornalismo, ou contar a história de alguém.

Talvez, no futuro, chegue-se à conclusão de que Talese, no fim das contas, foi um pouco superestimado em função do mito que sua “cria”, o novo jornalismo, se tornou. Mas não há como negar o talento e, principalmente, o empenho por trás de seu trabalho.

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