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Livro da semana – “História da filosofia moral”
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Reprodução/Internet
John Rawls.

John Rawls era muito mais um filósofo do que um professor. Mas ganhou a vida ensinando filosofia. Era professor de Harvard. Tímido, com uma gagueira que desde a infância só piorou, ele escrevia as aulas que preparava para seus alunos. E vários de seus livros surgiram assim.

Não que ele tivesse pensado em fazer com que seus cursos virassem livros. Pelo contrário. Relutou até o fim davida, mas acabou cedendo, dizem, por um princípio de justiça. Dizem que ele achava injusto que só os alunos tivessem acesso ao material. Se outros queriam ler, embora ele achasse que aquilo não era grande coisa, que lessem…

Foi a sorte de quem não entrou em Harvard mas quer saber o que um dos grandes pensadores do século 20 tem a dizer sobre moral. Revisados a partir do curso de 1991, os textos publicados em “História da filosofia moral” dão uma noção de quanto Rawls estava interessado no tema e, especialmente, em um autor: Kant.

Kant, junto com Abraham Lincoln, era um dos heróis de Rawls, que viveu defendendo a democracia e as liberdades civis. E, no livro, percebe-se isso muito claramente: dez das 22 palestras são dedicadas à teoria de Kant. E os outros três nomes incluídos, para falar a verdade, são lidos mais em comparação com Kant do que se poderia imaginar.

O livro começa com a teoria de David Hume, que é visto como um precursor do Kantismo. Depois, passa-se a Kant. Faz-se uma pausa de duas sessões para explicar como Kant estava replicando a Leibniz. E, no final, há duas palestras mostrando como Hegel usou o legado kantiano para construir sua teoria.

O centro do livro é a ideia do imperativo categórico, em suas três formulações. O sujeito deve agir:

1- Como se sua máxima fosse uma lei da natureza

2- Sempre tratando os seres humanos como fim, e não como meio

3- Como se sua máxima pudesse ser estendida a todos os seres humanos

A ideia básica é de que os seres humanos não devem fazer cálculos para determinar o que é melhor “naquele momento”, ou “naquela circunstância”, ou pelo menos não fazer isso se o cálculo exigir que se levem em conta possíveis desvios daquilo que é, simplesmente, certo.

Rawls compra inteiramente a ideia de Kant de que há comportamentos que são sempre indignos, não importando as circunstâncias nem as consequências. E irá usar isso como base para sua teoria política, tornada famosa em “Uma teoria da justiça”.

É um presente para os estudantes de filosofia brasileiros que o livro esteja disponível também em português. Falta agora a “História da filosofia política”, organizada do mesmo modo. Será que ela sai?

Serviço: “História da filosofia moral”. Martins Fontes. Tradução de Ana Aguiar Cotrim. R$ 53,40.

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