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Livro da semana – Meridiano sangrento
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Reprodução/Internet

Meridiano sangrento é um livro assustador. Duvida? Veja o que Harold Bloom, talvez o mais importante crítico literário vivo, disse sobre ele:

“Da primeira vez que eu li Meridiano sangrento eu estava tão assustado que eu desisti depois de umas 60 páginas. Eu acho que na época eu não esta mesmo me sentindo mesmo muito bem; estava tendo problemas de saúde e aquilo era mais do que eu poderia ageuntar.”

Ele tentou ler uma segunda vez:

“E eu acho que eu li umas 140, 150 páginas e daí eu acho que foi o Juiz [personagem mais cruel do livro] que me pegou. Ele começou a me dar pesadelos, assim como ele dá pesadelos nas crianças.”

Aí, finalmente, veio a terceira vez:

“E o livro saiu como um tiro. Li direto e estava fascinado. Eu disse: ‘Meu Deus, isso me lembra Thomas Pynchon no seu melhor, ou Nathanael West’ Era o melhor livro desde Enquanto agonizo, de Faulkner.”

Mas o que um livro pode ter de tão terrível que assusta até mesmo um crítico literário experimentado? Na verdade, tudo. Cormac McCarthy transformou o seu faroeste no maior show de horrores da literatura norte-americana.

Ao invés de pintar a vida no Oeste distante do século 19, perto da Califórnia, com os tons épicos de um filme com John Wayne, McCarthy (o mesmo escritor que deu origem a Onde os fracos não têm vez e A estrada) mostra tudo o que podia acontecer de mais cruel naquele lugar bárbaro.

Numa rara cena (quase) terna do livro, por exemplo, uma égua aparece dando à luz seu filhote. Na cena seguinte, o bichinho aparece sendo assado no espeto…

As lutas com os índios são terríveis. O grupo descrito no livro, um bando de carniceiros, ganha por escalpo de indígena.

Além de matar os índios, porém, eles se divertem, por exemplo, estuprando os agonizantes.

A ideia de Cormac McCarthy, que não dá entrevistas, e portanto não excplica nunca “o que quis dizer” parece ser mesmo a de chocar.

Seu livro é tremendamente seco (muito mais do que o exemplo de “secura” da literatura brasileira, Graciliano Ramos). Áspero, terrível, quase ilegível, de tão sofrido.

Mas ao mesmo temo é tremendamente forte, poderoso. Descreve a humanidade como ela seria se jogada a um lugar em que não temos os freios da civilização. Uma espécie de Senhor das Moscas com adultos.

É um livro para quem tem vontade de entender o mundo. Mas exige estômago, muito estômago, de quem pretende ler.

Serviço:

A tradução mais recente para o português foi lançada pela Alfaguara com o nome Meridiano de Sangue, em tradução de Cássio de Arantes Leite. Custa R$ 49,90.

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