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Livro da semana – “Vício Inerente”
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Reprodução/Internet
Thomas Pynchon: ninguém conhece fotos recentes do autor. Essa é dos anos 50…

O primeiro livro que li de Thomas Pynchon foi “O Arco-Íris da Gravidade”. Livro difícil, que exige uma baita concentração e algum esforço para decifrar certos trechos. Livro fantástico, mas que te dá diversão (e o resto) ao preço de te exigir um bom empenho. Não sai de graça.

Quando fui ler “Vício Inerente”, o mais recente livro do mesmo Pynchon, quase que me assustei. Depois daquela pedreira, vinha um livro até simples de ler. O início da história é uma comédia (quase) rasgada sobre um bando de hippies narcotizados na Califórnia do fim dos anos 1960.

O centro da trama é um detetive adepto da psicodelia da época, chamado Doc Sportello. Ele entra numa trama complicadíssima para atender uma ex-namorada. Um crime tipo de livro noir, mas com o colorido de Gordita Beach. E ao mesmo tempo em que encara megacorporações do mal, gangues étnicas, semizumbis e coisas do gênero, Doc só se preocupa mesmo é com a vida que considera boa: quer escapar de tudo isso em nome de sexo, drogas e rock´n´roll.

A narrativa é muito mais simples do que Pynchon já fez – embora a trama fique tão complicada que uma hora você ache que foi o escritor que fumou um baseado. Mas a ideia é essa mesma: para contar a história de um mundo psicodélico, Pynchon decidiu que o melhor jeito era fazer um livro psicodélico.

Não são só os personagens que entram no clima. Por exemplo: na porta do escritório de Doc há um olho gigante, com veias e tal. E tem clientes que vão até lá contratar o detetive e acabam encarando o olho por tanto tempo que esquecem o que tinham ido fazer lá. E vão embora.

O livro também é meio assim. Um negão tem negócios com uma gangue de arianos que se consideram superiores. Gente entra e sai (e gente cada vez mais esquisita) do livro o tempo todo. Você nunca entende direito o que é que falta para resolver o tal crime, se é que crime houve, e como foi que tudo aconteceu mesmo?

Pynchon é um gênio. O livro também é genial. Às vezes é simplesmente engraçado (com um personagem comendo um pedaço de pizza que, entre outras coisas, tem marshmallow e torresmo). Às vezes é quase um livro de aventura. Mas o mais bacana mesmo é que é um livro de Pynchon. Com toda a capacidade de colocar você no meio de um mundo em que você nunca viveu, nem vai viver.

Doc Sportello é um passaporte grátis para o mundo da psicodelia dos anos 60. E o passeio não só vale a pena como não vem com os efeitos colaterais da época.

Serviço: “Vício Inerente”, de Thomas Pynchon, saiu no Brasil pela Companhia das Letras. A tradução é do irmão mais inteligente do autor do blog, Caetano Waldrigues Galindo.

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