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Andei falando de Marcelo Sandmann por aqui. E ele foi gentil o suficiente para mandar dois poemas inéditos em livro para o blog. O primeiro vai aqui.


TEMPUS FUGIT (I)

Talvez pelo
simples, pelo
inevitável fato
de que o prazo,
a validade (ver
informações no
verso) deste
corpo esteja
aos poucos
(morituri te
salutant)
se esgotando,

não saia pelas
tardes da cidade,
em dias de céu
azul e sol,
sem que um
(pés bonitos
nas sandálias)
rabo-de-saia
não acenda
qualquer coisa
irrevogável aqui
em mim.

Outrora caminhei
incólume, um
tanto por timidez,
outro tanto por
princípio (sempre
a recusa ao
típico, ostensivo
sestro
masculino: o
ruído obsceno
nos lábios, a
palavra maliciosa,
o assovio
impulsivo).

Mas agora que
sei que sou
precário e me
vejo aguilhoado
de tal modo ali no
extremo da raiz do
(digamos)
“nervo lírico”,
fico pensando
aqui comigo: mas
que bobagem,
como fui tolo,
que
desperdício!

Sim, mocinha
distraída. Dobrado
o Cabo (ainda)
Tormentório,
algumas milhas
já além del mezzo
del cammin, Lobo
Bobo da Estepe
acossado pelos
próprios cães de
caça, Actéon
na selva de neon
clicando Diana
semi-
lua,

eis-me aqui,
do outro lado
da calçada,
prestes a fazer
o gesto, a dizer
a tal palavra,
a saltar por sobre
a rua numa
cabriola doida,

e postar-me
(ou melhor:
prostrar-me),
diante de você,
com um buquê
de rosas
cor de sangue na mão,
feliz! feliz! feliz!
por saber que ainda
não chegou (pois
vai chegar, já está
chegando) a
minha hora.

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