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O último soldado de Napoleão bate em retirada
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Reprodução/Internet
Charles Simic.

Charles Simic foi incluído por Harold Bloom na lista de poetas “canônicos” de nosso tempo. Nascido em 1938, em Belgrado na Iugoslávia, se mudou para os Estados Unidos. Aqui vão três poemas em prosa absolutamente surreais que ele escreveu.

Eu sou o ultimo soldado Napoleônico. Já é quase duzentos anos depois e eu ainda estou batendo em retirada de Moscou. A estrada está cheia de vidoeiros brancos e a lama chega aos joelhos. A mulher de um olho só quer me vender uma galinha, e eu não estou nem usando roupas.
Os Alemães vão em uma direção; eu vou em outra. Os Russos vão em outra direção ainda e acenam, dando adeus. Eu tenho um sabre cerimonial. Eu o uso para cortar meu cabelo, que tem um metro e meio.
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Comédia de erros em um elegante restaurante do centro.
A cadeira é na verdade uma mesa tirando sarro de si mesma. O cabideiro acabou de aprender a dar gorjeta para os garçons. Serviram a um sapato um prato de caviar preto.
“Meu querido e muito estimado senhor”, diz uma planta num vaso para um espelho, “é absolutamente inútil ficar excitado”.
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Margaret estava copiando uma receita de “santos assados com cebolas” de um velho livro de culinária. Os dez mil barulhos do mundo silenciaram para que nós pudéssemos ouvir o ruído de sua caneta. O santo estava dormindo no quarto com um pedaço de pano molhado nos olhos. Fora da janela, o dono do livro sentou em uma macieira em flor matando piolhos entre as unhas dos dedos.

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