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Longe de casa…  (VIII)
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(…) “Quando se tem uma bússola, procura-se o norte. Mas a bússola indica também, indiretamente, o sul que é a luz, o sol, a vida. A criança tem, também ela, sua bússola interna. Ela se refere ao pai para saber onde está a mãe. Ou refere-se, quer a um, quer ao outro, para saber qual dos dois é o mais viável. (…)”  (Françoise Dolto)

Conversando com meu filho…

“Meu Lindo,
na primeira semana de junho, seu pai deu um curso na UEL em Londrina e fui junto.

Sabia que estes momentos seriam cada vez mais raros daqui para frente, e estar em família era o que eu mais queria.
Apesar de Curitiba ser uma cidade linda, não me acostumava com o clima e sentia muito a falta dos meus familiares e amigos.

Por muitas vezes seu pai precisou ter overdoses de paciência por conta das minhas crises de ausência familiar.

Logo que chegamos em Londrina fomos direto para a casa da sua tia Ana. Ela nos esperava para jantar e nos preparou uma sopa de lentilhas…daquelas que só a tia Ana sabe fazer.

Depois do jantar, seu pai foi visitar sua avó Regina enquanto eu fiquei curtindo seu primo Affonso.

Quando ele tinha dois aninhos eu me lembro de
passear com ele no fusquinha do vô Gena.
De fraldas ainda, ele ficava em pé no meu colo segurando o volante e fazendo de conta que era o motorista.
Ele era loirinho, loirinho, tinha um sorriso sapeca que fazia derreter qualquer coração.
Quando passava perto de uns cabritinhos achava o máximo e apontava o dedinho dizendo: “bisso, bisso!” (bicho).”

 

Licões que aprendi…

Antes de engravidar, quando eu ouvia ou lia depoimentos a respeito da sensibilidade que a gravidez proporcionava, achava tudo crendice, bobagem de mulher grávida, mas só entendi o quanto tudo isso é verdadeiro, depois que o Antonio nasceu, bem depois.

Ao mudar-me definitivamente para Curitiba, em agosto de 2000, senti bastante o que muitas pessoas diziam a respeito da cidade, do curitibano, do clima:

“- As pessoas são difíceis de se relacionar!”
“- Será que vai se acostumar com o frio?”
“- O curitibano não faz amizade fácil.”

E foi verdade.
Os poucos amigos que fiz aqui são de outras cidades ou estados. Salvo raras exceções. E o frio… não me adapto a ele até hoje.

Morei 23 anos em Londrina.
Trabalhei, estudei e fiz muitos amigos por lá durante todos esses anos.
Era difícil aceitar ficar longe de pessoas queridas que viveram comigo parte da minha vida.
Lembrar do abraço caloroso e do carinho destas pessoas por mim era torturar-me demais num período em que me encontrava tão sensível.

Eu podia contar com um casal de amigos e seu filhinho- Nãna, Michel e João Daniel – para nos fazer companhia em alguns finais de semana e assim, aliviar um pouco a saudade da minha família. Como fazia apenas um ano que eu estava aqui, minha vida e minhas amizades limitavam-se ao meu ambiente de trabalho e à faculdade.

Mas devo dizer que senti muita solidão e, com o passar do tempo, tentei me acalmar.

Nas minhas horas de introspecção, lembrava de algo que meu amigo Roger sempre dizia: “ – Em tudo dai graças!” E afirmava que não havia crise que nos impedisse de sentarmos juntos numa calçada e tomar uma coca-cola com dois canudinhos… Era este o verdadeiro sentido solidário de uma amizade.
Tanta simplicidade para resolver as coisas tinha uma causa.  Uma impertinência, eu diria. O Nanico, como eu o chamo, um cartunista talentoso, um amigo que levarei para o resto da vida! Eu o conheci quando trabalhávamos numa agência de publicidade em Londrina. A primeira vez que conversei com ele, falava tão rápido que mal conseguia entender o que dizia… Naquela época, em 1995-96, contou-me que havia sofrido um acidente tão sério que os médicos o desenganaram… O diagnóstico previa apenas 3% de chance de sobreviver e Roger sobreviveu! Amigo, aprendi com você em tudo dar graças e a ter pelo menos  dois canudinhos para um refri! Obrigada pelo carinho e pela lição.

No entanto, enquanto eu continuava no “casulo”, reavaliei minha vida em Curitiba e minhas amizades.
No sentimento da solidão, eu amadurecia o meu relacionamento com meu marido, aprendia a importância da sua companhia e cada dia longo que passava mais eu digeria a distância e tentava amenizar a saudade.

Nestas idas e vindas à Londrina, quando encontrava meus familiares e amigos, uma luz se acendia dentro de mim, renovando minhas energias e fazendo-me apreciar cada minuto passado ao lado deles. Laços apertados, nós de amor que não se desatam.

Mesmo agora, revisando este texto 14 anos depois, ainda sinto-me uma estranha em Curitiba…

Para mim, tudo se ajunta em Londrina, minha bússola, meu norte. Passado, presente e futuro… Família e amigos desta e de algumas vidas.

Deus nos abençoe.

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