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Imagem de Michal Jarmoluk por Pixabay
Imagem de Michal Jarmoluk por Pixabay| Foto:

O ano está no fim e, com a iminência do encerramento, surge uma preocupação: as férias!!! Férias representam descanso – para as crianças, e não para os pais – mas também representa rompimento da rotina. E, como sabemos, para a maioria das pessoas com autismo, a ausência de rotina representa a falta de previsibilidade do que vai acontecer. Nas férias tudo é mais solto, tudo é mais improvisado e - consequentemente - tudo pode ser mais confuso. Assim, é comum que crianças autistas se desorganizem, se desestruturem e até pareçam estar regredindo (embora, na maioria das vezes, essa percepção não represente de fato a realidade).

Houve um tempo em que eu ficava com pavor das férias, pensando “Oh Jesus, lá vem a regressão de fim de ano”. Bastava a rotina se alterar que comportamentos disfuncionais, antes já superados, voltavam a aparecer. Mas, aos poucos, fui compreendendo o que estava acontecendo com minha filha. A questão é simples: imagine que você está em uma dieta de reeducação alimentar e já está educado a não comer doce todo dia, toda hora. Agora, imagine seu nível de ansiedade aumentando, você ficando confuso e nervoso. É evidente que resistir a incidir em velhos hábitos será bem difícil, não?! Mas, passar uma semana comendo doce toda hora não significa que você não teve ganhos com sua reeducação alimentar, não significa que você não aprendeu a comer corretamente, mas tão somente o reflexo de sua ansiedade. É mais ou menos por aí.

Nas férias, sem rotina, com a vida mais desorganizada, a criança passa a ter alteração na sua ansiedade, no seu conforto, na sua maneira de ver o seu dia. Isso afeta seu comportamento e a criança passa a incidir em velhos hábitos. É claro que grandes diferenças de comportamento nunca podem ser ignoradas, e deve-se sempre ter o auxílio de profissionais de saúde para direcionar como intervir; porém, assim como aconteceu comigo, a mudança de comportamento dos filhos nas férias, em geral, é uma narrativa de onde a mãe parte do pavor absoluto e, aos poucos, caminha para a compreensão do que está realmente influenciando no comportamento da criança. Já escutei um sem número de relatos de mães que, como eu, se apavoraram durante as férias, achando que o filho estava regredindo e depois perceberam que os comportamentos aprendidos continuavam lá (apenas guardadinhos durante esse momento tão confuso para a criança).

Mas então a solução é simplesmente esperar o furacão passar? Não.... Férias não precisam ser ruins, não precisam ser um momento de desorganização da criança. O primeiro passo é consultar com os profissionais sobre estratégias para lidar com a ruptura das atividades escolares da criança. Prepare-se para as férias, não seja invadido por ela. Vou passar para vocês algumas das medidas que eu tomo antes das férias que auxiliam a minha pequena:

(1)          Contagem regressiva: fazemos um calendário e, todo dia, vamos marcando quantos dias faltam para o início das férias. No calendário, há a anotação do dia em que se iniciam as férias. Cuidado para não cometer o mesmo erro que eu cometi no passado: coloquei o último dia de aula como dia de início das férias, e o resultado foi que, no último dia de aula, ela disse que não ia para o colégio porque estava de férias! O dia de início das férias deve ser o dia que efetivamente a criança não tem mais aula.

(2)          Pontuação das atividades que serão feitas nas férias: Nós procuramos planejar o que será feito antes. Por exemplo, eu só digo que nas férias é momento de praia se realmente eu tenho certeza que a gente vai para a praia, e acrescento quando a gente vai. Planejo atividades que serão realizadas com antecedência e faço o máximo para não deixar nada para a última hora.

(3)          Cronograma do dia: Todo dia, pela manhã, passamos o cronograma de atividades, colocando o que vai ser feito naquele dia. Ou seja, eu sei antes do dia começar quais são as atividades. De manhã, minha filha é avisada de todas elas. Assim, ela consegue se preparar e não é pega de surpresa. A cada atividade feita, remetemos novamente ao cronograma para ver o que vai ser feito.

(4)          Coloco atividades como reforçadores: combino com minha filha que, se ela cumprir certa demanda, ela poderá ir a certo local. Por exemplo, se ela guardar todos os brinquedos que usar naquele dia, ela irá ao shopping. Falo para ela qual a demanda de forma objetiva e igualmente o reforçador de forma objetiva. É preciso que tudo esteja bem claro. Em alguns casos, um sistema de pontos funciona: para cada tarefa cumprida, 1 ponto. Ao alcançar “x” pontos, a criança ganha o reforço.

(5)          Envolva-se nas brincadeiras: Crianças autistas sem supervisão tendem a incorrer em atividades não funcionais. Direcione as atividades, participe, esteja em cima o máximo possível. Se suas férias não coincidirem com as de seu filho, tente ao máximo dedicar os momentos em que estiver em casa a ele – pode ser desgastante, mas será recompensador. Procure demonstrar envolvimento nas férias o máximo possível.

Férias são momento de reunião da família, momento de curtir com os pequenos. As férias podem ser maravilhosas, sim! Cruze os dedos, prepare-se, que vamos decolar para 2020 em grande estilo e com muita alegria nesses últimos meses do ano!

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