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Segundo um estudo publicado na American Journal of Psychiatry, dos EUA, o inseticida DDT pode ser capaz de atravessar a placenta e aumentar o risco de um bebê desenvolver autismo. O estudo foi feito com uma análise do registro nacional da Finlândia de crianças autistas em correlação às amostras de soro do sangue de mães grávidas do banco de dados biológicos na Finlândia, referentes aos anos de 1987 e 2005.

<< Link da pesquisa: https://ajp.psychiatryonline.org/doi/10.1176/appi.ajp.2018.17101129>>

Alguns médicos e profissionais da área de saúde entendem que mais pesquisas devem ser realizadas para considerarmos tal afirmação incontestável, porém, alguns profissionais da área de saúde entendem que o artigo traz uma análise concreta da correlação entre a exposição ao DDT e risco de desenvolvimento de autismo.

A pesquisa abre campo para refletirmos sobre a necessidade de se repensar o modo como vivemos, o que comemos, a água que bebemos, e os reflexos da realidade moderna para as futuras gerações. É um debate vivo que gera opiniões diversas. A utilização de defensivos agrícolas é um tema tão polêmico como desconhecido. Muitos partem do pressuposto que “é químico, então faz mal” e outros partem do pressuposto de que “é amplamente usado há anos, então não tem problema”, sem pararmos para pensar que a questão é bem mais complexa.

O defensivo agrícola visa a exterminar plantas ou animais daninhos que nascem nas lavouras. Mas observe-se que a planta ou animal se faz daninho em correlação ao objetivo agrícola. Por exemplo: um rato tem sua função na natureza, mas, em algumas plantações, ele pode causar um grande estrago e, por isso, se usa contra ele um defensivo agrícola. Os defensivos são elaborados, basicamente, segundo a seguinte lógica: matar o que eu quero matar e que está prejudicando minha planta, não matar a minha planta, e não matar quem vai se alimentar da minha planta (numa lógica bem simplista).

A questão que fica é o quanto os defensivos agrícolas afetam a saúde? O quanto sabemos sobre as reais afetações à saúde que geram os defensivos agrícolas? E quais defensivos agrícolas são realmente seguros para a saúde? Seria possível a legislação prever parâmetros que tornem os defensivos agrícolas seguros? Nossa legislação é suficiente para proteger o ambiente e o consumidor final dos riscos dos defensivos agrícolas? Há meios coercitivos suficientes para que a legislação que define como utilizar defensivos agrícolas de forma segura seja seguida?

No caso do DDT há diversas pesquisas de sua toxidade, sendo proibido em alguns países. Uma grande problemática é a contaminação que o DDT faz aos lençóis freáticos e ao solo. Mesmo em lugares onde o DDT foi proibido é possível verificar, anos depois, sua presença no solo e na água. No Brasil, a proibição definitiva (em todas as esferas) do DDT ocorreu apenas em 2009 (Lei de nº 11.936), porém, isso não significa que a presença do DDT não esteja na água e no solo do Brasil.

Interessante verificar que trabalhadores acreanos processaram a por intoxicação ocorrida mediante a manipulação de DDT. Vale ressaltar que a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça manteve decisão da Justiça do Acre para indenizar tais trabalhadores (segue decisão: https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=68447730&num_registro=201603120940&data=20170420&tipo=51&formato=PDF)

Porém, se eliminarmos os defensores agrícolas, como conseguiremos produzir alimentos em larga escala para alimentar a população mundial? Aparentemente não será possível. Então, que saída teríamos? Leis mais rígidas? Maior coercitividade? E é justamente nesse aspecto que o tema se torna difícil e polêmico.

Existem pesquisas e investigações sobre melhoramentos na qualidade de vida e melhor desenvolvimento de crianças autistas mediante o ato de extirpar da alimentação dessas crianças alimentos que detenham algum tipo de defensor agrícola em suas produções. Muitos consideram essas pesquisas ainda não suficientes para trazer uma resposta categórica sobre a interferência desses químicos no desenvolvimento infantil de autistas, contudo, sem dúvida o tema gera um ponto de interrogação na cabeça de diversas mães e pais.

A questão ainda torna-se mais complexa ao considerarmos não estamos certos de que os produtos orgânicos sejam realmente orgânicos, na medida em que, mesmo que o produto seja produzido sem a utilização de defensivo agrícola, pode conter tais químicos mediante a utilização de água que vem de lençol freático contaminado, solo contaminado por defensivos agrícolas utilizados em tempos anteriores, ou mesmo defensivos agrícolas de lavouras próximas e que são levados pelo vento até onde ocorre a plantação orgânica. Assim, não basta comprar um produto que se diz orgânico sem conhecer de fato sua procedência para saber se efetivamente é orgânico.

Outro aspecto é a grande diferença de valores entre produtos não orgânicos e orgânicos, que pode vir a pesar no orçamento. Já conheci muitas famílias que tentaram ter uma alimentação orgânica, mas os valores das despesas aumentaram de tal forma que desistiram da empreitada.

Evidentemente, não tenho uma resposta para solução desses impasses, porém, o que sei é que devemos manter o debate vivo e prestar especial atenção às produções científicas sobre o assunto. A construção de uma solução só será alcançada com engajamento de profissionais de diversas áreas (médicos, nutricionistas, engenheiros agrônomos, advogados, etc.), e escutando todas as partes envolvidas.

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