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Instintos do pai em formação: olho no bebê, não na babá
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Montagem sobre ilustração de Allie Hylton / Stock.Xchng
O instinto paternal muda o alvo das atenções do homem

Vou confessar uma coisa que percebi recentemente: deixei de reparar (muito) nas mulheres bonitas que circulam por aí. Antes que algum engraçadinho venha me perguntar se passei a reparar em homem bonito, esclareço: não, (nem) obrigado. Mas notei que, durante meus passeios, esteja eu acompanhado ou não de minha esposa, minha atenção não mais recai (tanto) sobre decotes ousados e saias indecentes. É claro que isso tem a ver com o fato de eu ser hoje um homem casado, e muitíssimo bem casado, registre-se – espero que esse trecho me livre da bronca por conta do “muito” e do “tanto” anteriores. Mas a questão é mais profunda, mais primordial, mais instintiva. Explico. Nos últimos tempos, o instinto que levava meus olhos a percorrem o cenário à procura de exemplares do sexo oposto arrefeceu, dando lugar a um novo instinto: o paternal. Se antes, com uma rápida olhada, eu identificava e classificava todas as mulheres de um ambiente, agora localizo bebês com a precisão de uma babá eletrônica com GPS. Continuo babando, mas, agora, os alvos de minhas atenções invariavelmente babam de volta.

É um carrinho de bebê passar ao meu lado que já estico o pescoço para trocar sorrisos com o pequeno passageiro, e indico para minha esposa: “olha, amor, que gracinha”. Ao que ela me responde, satisfeita: “tá todo babão”. Nem quero imaginar o que aconteceria se eu fizesse isso em outra época, quando o meu instinto me levava a olhar a moçoila que empurrava o carrinho. Pensando bem, o que mudou o foco das minhas atenções depois do casamento (depois de conhecer minha esposa, para ser mais preciso e evitar o início do fim dos tempos) foi duplamente um instinto de preservação: de preservação da espécie, pois passei a desejar a formação de minha prole, e de autopreservação, pois minha mulher é linda, inteligente… e brava, muito brava.

Enfim, fato é que, com quase 30 anos, sinto que está chegando o momento de me tornar pai. Sei da enorme responsabilidade que advém da paternidade e estou pronto para assumi-la, mas não tenho paranoias. Certa vez, comentei com um amigo muito bem-sucedido financeiramente que eu não tinha grandes ambições financeiras e que não esperaria acumular “o primeiro milhão” antes de ter filhos. O conselho dele foi que eu seguisse a lição de Brás Cubas, de Machado de Assis, que, ao fim de suas Memórias Póstumas, escreve: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”. Penso que o meu amigo não entendeu a mensagem. A miséria a que o livro se refere é da humanidade e diz respeito à falta de valores muito mais caros do que os expressos em cifrões. Como o Brás, há muita gente que prefere “não colocar filhos no mundo”, sob o pretexto de que “seria muito cruel”. De fato, o mundo não está fácil. Mas quando foi? O meu avô nasceu pouco depois de uma Guerra Mundial. O meu pai, depois de outra Grande Guerra. Eu nasci pouco depois de um regime militar. Se o mundo não acabar em 2012, talvez meus filhos nasçam, cresçam e possam fazer alguma diferença positiva neste mundo. Farei a minha parte da melhor maneira possível. Talvez eu não tenha um milhão de reais quando eles nascerem, mas certamente terei um milhão de boas intenções, um milhão de conselhos, um milhão de sorrisos e um milhão de carinhos para dar a eles, ou a elas. Até lá, vou babando com os bebês dos outros.

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Agudas

– No último sábado, participei do batizado de um sobrinho. Observando aquele rostinho inocente, reforcei minhas convicções sobre os recentes abandonos de bebês: como escrevi noutro dia, “bebê não é brinquedo, sente fome, fio e medo”.

– “Não deveria gerar filhos quem não quer dar-se ao trabalho de criá-los e de educá-los”, afirmou Platão. Como quase toda grande lição, parece óbvia. No entanto, há muita gente que não interpreta adequadamente a frase: criar os filhos não significa dar tudo o que eles querem, mas tudo de que precisam (amor, sobretudo); e educá-los não significa necessariamente matriculá-los em uma escola trilíngue e lotar suas agendinhas de compromissos “educativos”, mas, principalmente, ensinar-lhes princípios e valores como amor ao próximo, honestidade, solidariedade, justiça, tolerância…

– Aliás, sou a favor do controle de natalidade. O método? Educação! É o contraceptivo mais eficiente e útil.

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