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Moleque chorão, saber perder é uma vitória!
| Foto:
J.Boontje / Stock.Xchng
O esporte nos ensina a perder: é preciso estar atento às lições

Dia desses revi o vídeo do menino Salomão, que ficou famoso por se desesperar após a derrota do Brasil para a Holanda, na Copa do Mundo de 2010. Depois de rir muito, fiquei matutando em como a vida tenta nos ensinar (muitas vezes, por meio do esporte) a lição mais dura e necessária: como perder. Infelizmente, nem sempre estamos atentos aos ensinamentos. Sei disso porque tive dificuldades para aprender a perder – sigo aprendendo (e perdendo).

Quando era moleque, quase sempre que perdia eu saía chorando, sobretudo no futebol em família – eu sabia que o chororô era ridículo e tinha vergonha de desempenhá-lo diante de estranhos. Minha fama de chorão foi tão grande que até hoje meus parentes usam um verbo criado por meu pai, inspirado em mim: “lodovicar”. Está lá, em nosso dicionário familiar: “lodovicar (lo.do.vi.car), chorar por conta de uma derrota, sobretudo no campo esportivo; não saber perder esportivamente”. Nem o meu pai sabe explicar o porquê do “lodovicar” e porque não escolheu um mais óbvio “viniciar”. Não conhecíamos nenhum Lodovico (o do Otelo, de Shakespeare, não era chorão) – aliás, o belo nome significa “guerreiro glorioso”, nada a ver com um choroso derrotado.

Por falar em guerreiro (não exatamente glorioso), lembro-me de uma vez em que, com sete ou oito anos, fui lutar judô em uma competição escolar. Antes de começarem as lutas da minha faixa etária, vi o meu irmão mais novo ganhar a medalha de ouro em sua categoria. Comemorei, mas senti a pressão: como primogênito, pensava abestalhadamente que tinha a obrigação de vencer também. Forçando os olhos para segurar a “lodovicagem”, esqueci que havia outro local por onde as lágrimas (?) poderiam escoar: fiz xixi no quimono, de tão nervoso que estava. Acabei ganhando a medalha de ouro, mas, como brincaria um amigo meu, perdi a dignidade.

Não sofri para aprender a perder apenas em disputas esportivas. Eu também “lodovicava”, às escondidas, quando não era o primeiro aluno da turma. Mas isso foi só até a quinta série, quando fiquei alto demais para sentar nas primeiras carteiras, fui obrigado a ir para o fundão e, aos poucos, descobri que os estudos são mais do que uma competição pelo maior número de estrelinhas numa prova.

Com o tempo, venho aprendendo a perder, no esporte, na escola, na vida, enfim. Hoje, sei que o mais importante, diante de vitórias ou derrotas, é seguir em frente. Como disse Winston Churchill, “o sucesso consiste em ir de derrota em derrota sem perder o entusiasmo”. Continuo chorando bastante, por diversos motivos (muitas vezes, de felicidade), mas não fico mais de “lodovicagem”. Afinal, saber perder é uma grande vitória.

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Agudas

– “O que mais me interessa saber não é se falhaste, mas se soubeste aceitar a falha.” (Abraham Lincoln)

– “Antes queria ser derrotado no bem do que vencer no mal.” (Sêneca)

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