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Tonto com tanta tecnologia! Está muito rápido, quero descer!
| Foto:
Ilker / Stock.Xchng
À velocidade da luz, evolução tecnológica nos deixa tontos (mova a cabeça em direção à tela e sinta a aceleração)

Eu não tenho Ipad, nem Ipod, nem Iphone. Esses “ais” ainda não me comovem. O que me comoveu, dias atrás, foi encontrar uma agenda (ou agora seria “aigenda”?) eletrônica que meu pai me trouxe da Zona Franca de Manaus, nos anos 1990. Eu era guri (ou piá, nunca moleque, para não parecer “descolado”), tinha pouco mais de dez anos, mas me sentia um cara sofisticado por ter nas mãos aquele elo evolutivo entre a calculadora e os (então itens de ficção científica) notebooks, smartphones e tablets modernos. Minha agenda eletrônica comportava incríveis (para a época) 64 KB, umas 20 mil vezes menos do que o minúsculo chip de 1GB que hoje está no meu celular já ultrapassado. Pode parecer pouco, mas era o suficiente para armazenar todos os meus compromissos d’ antanho: “ir à escola”, “fazer a tarefa de Matemática”, “tomar coragem e perguntar o nome da menina loira da catequese”. E tinha até um arquivo secreto no aparelhinho, com senha e tudo, para informações confidenciais como: “pedir para o vizinho devolver a Playboy das trigêmeas”. Ah, se essa senha caísse em mãos erradas…

Acabei deixando de lado a agendinha eletrônica (que hoje encontro para vender por US$ 2,99, num site de leilões) quando ganhei meu primeiro computador com conexão à internet. Foi uma revolução. Na segunda metade dos anos 1990, eu já podia perguntar o nome da menina loira da catequese pelo chat online, sem gaguejar ou levar bronca do padre. Ainda não havia para ninguém Google e Facebook, a mais completa tradução da rede atual. A conexão era discada, de 9.600 bps, dez mil vezes mais lenta do que a que tenho hoje. Mas eu ainda tinha tempo para perder – além do mais, esperar um minuto para ver um site vindo do outro lado do mundo, pela linha telefônica, parecia o mínimo possível, quase uma questão de respeito.

De lá para cá, a evolução tecnológica acelerou muito. Tanto, que eu comecei a me sentir meio besta por me esforçar para manter a atualização. É como se eu tentasse acompanhar o Usain Bolt numa corrida, não dá: é melhor ficar assistindo e aplaudindo. Essa sensação de impotência, diante de tanta velocidade, tanta informação, tanta novidade, fez com que eu até perdesse o interesse por coisas de que sempre gostei, como descobrir músicas e bandas. Sei que pode parecer paradoxal, já que hoje há facilitadores na busca por novos sons (como MySpace, Youtube e outros), mas confesso que sinto saudades do tempo em que era mais complicada a obtenção dos últimos lançamentos musicais. Eu ia praticamente todos os dias às lojas de discos, para ouvir as novidades. Hoje, é raro eu fuçar a internet atrás de música. Para mim, perdeu-se o encanto, ficou muito fácil. E a gente não costuma dar valor ao que é muito fácil.

Aliás, há exatos 32 anos era lançado o primeiro toca-fitas portátil, o Sony Walkman, “o Ipod do homem das cavernas”, poderia dizer algum piá desaforado. Eu já (?) sou da geração do CD, mas hoje rendo minhas homenagens aos toca-fitas, às agendas eletrônicas, aos computadores de cartucho, aos monitores monocromáticos, aos Atari, enfim, aos precursores do que temos hoje. Afinal, é importante respeitar os mais velhos – advogo em causa própria, já que, ao que tudo indica, também fiquei velho.

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Agudas

– “O grande perigo da tecnologia é implantar no homem a convicção enganosa de que é onipotente, impedindo-o de ver sua imensa fragilidade.” (Hermógenes)

– “Não evoluo: sou.” (Picasso)

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