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Torcedores e fiéis: o que realmente importa?
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Shenky/Stock.XCHNG
Times de futebol e religiões: o que vale é o esporte jogado e o bem praticado.

Ontem foi domingo. Conforme o verso, domingo pede cachimbo. Mas como o verso é anterior à lei antifumo, fico com as outras coisas que domingo pede: futebol e espiritualidade. Não necessariamente nessa ordem. Então, depois de ver o time do coração perder na abertura do Campeonato Brasileiro (sofro com o Botafogo, do Rio), ouvindo o inspirador canto gregoriano de Juliano Ravanello, lembrei-me de um e-mail que recebi há pouco tempo do meu pai. A mensagem continha um suposto diálogo entre o teólogo Leonardo Boff e o Dalai Lama. Boff teria provocado o monge budista, perguntando-lhe: “qual a melhor religião?” Ao que o Dalai Lama teria respondido: “aquela que te faz melhor”. E eu completaria: e a que te faz mais bem.

O pop-star monge tibetano tem razão. De fato, fazendo uma comparação futebolística (daquelas que já não ouvimos diariamente, graças a Deus), parece-me que a escolha da religião a seguir, como a escolha do time de coração, é (ou deveria ser) mero veículo por meio do qual se busca desfrutar o principal: o transcendental, o Infinito, o Bem Superior, Deus (no caso do futebol, o próprio esporte). Deveríamos prestar mais atenção ao futebol bem jogado, essência da paixão pela “mais importante dentre as coisas desimportantes”, do que às cores usadas por quem o pratica. Da mesma forma, devemos prestar mais atenção ao conteúdo dos ensinamentos que nos levam ao contato com o Infinito do que aos livros sagrados em que estão supostamente contidos. Deveríamos vibrar mais com um golaço do time que veste outras cores do que com um gol desonesto do “nosso time”, assim como devemos prestigiar as lições essencialmente positivas de outras doutrinas e questionar os posicionamentos duvidosos da “nossa religião”. Porque a religião não é o essencial, como o time também não é. Se acabarem as religiões, Deus, o Bem, a Justiça, o Amor, a Verdade, continuarão existindo. Da mesma maneira, mesmo que desapareçam os times, continua a existir o futebol.

Infelizmente, contudo, tanto na religião quanto no futebol (que muitos infelizes consideram uma “religião”), há quem se atenha ao acessório e se esqueça do principal, fanáticos que se apegam mais à forma do que ao verdadeiro conteúdo, gente que esquece a razão para estarmos todos nesse estádio (e estágio) existencial: tanto nos campos de jogo quanto nos campos da vida, o que realmente importa é o espetáculo bom, bonito, ético, honesto, amigável, solidário, sem rivalidades e tolerante com os erros dos pernas-de-pau (que somos todos). O ideal é que joguemos todos no time do Bem, treinado por Deus (que tem muitos apelidos), não importando a cor da camisa que escolhamos – vale até jogar sem camisa.

Zii Yen/Stock.XCHNG
Nos campos da vida, somos todos pernas-de-pau.

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Agudas

– A lição do Dalai Lama não é inédita. Na epístola de São Tiago (1,27), pode-se ler: “A religião pura e sem mácula aos olhos de Deus e nosso Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições, e conservar-se puro da corrupção deste mundo”. Já Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo, escreve: “O objetivo da religião é conduzir a Deus o homem. (…) Logo, toda religião que não torna melhor o homem, não alcança o seu objetivo.”

– Diz-se que não se discute religião, nem futebol. Penso o contrário. É na falta de discussão civilizada que posições radicais e extremistas são acalentadas, em silêncio, sem questionamento, muitas vezes em mentes fragilizadas e perturbadas.

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