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Antonio More/Agência de Notícias Gazeta do Povo
Antonio More/Agência de Notícias Gazeta do Povo| Foto:
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Como prometido, prosseguirei analisando a mobilidade urbana em Curitiba. Pedi ao aluno Lucas Prates, da Faculdade de Direito da UFPR, para relatar a experiência na Via Calma, na Av. Sete de Setembro. Lucas sempre chega à faculdade em sua bicicleta e a estaciona no bicicletário que se encontra no subsolo do Prédio Histórico, na Praça Santos Andrade. Há muitos alunos da UFPR que fazem o mesmo.

Vale a leitura.

Acalmando as vias de Curitiba: avaliações e sugestões de um ciclista

Há seis anos utilizo, praticamente todos os dias, a bicicleta como meio de transporte. Seja no auge do verão ou no típico frio curitibano, uso-a para ir à faculdade, ao trabalho, ao supermercado e a quaisquer outros compromissos. Boa parte dos meus trajetos se dão na Av. Sete de Setembro, local de recente implantação da chamada Via Calma. Até então eu era obrigado a arriscar minha vida todos os dias na canaleta (via expressa do ônibus) dessa avenida, como muitas pessoas ainda o fazem em outras regiões da cidade. Hoje, entretanto, naquele trecho da Via Calma a situação está próxima do ideal em termos de transporte cicloviário – o qual, por sua natureza, é sustentável, saudável, humano, barato, simples e eficiente. As alterações na Av. Sete de Setembro se resumem na delimitação de uma faixa preferencial para as bicicletas transitarem, bem como na criação de travessias elevadas para pedestres e na restrição da velocidade de carros e motos em 30km/h. Ciclistas também possuem preferência em conversões e espaços exclusivos para pararem nos sinaleiros. É um modelo já utilizado em países europeus, sendo também uma reivindicação antiga dos movimentos ciclísticos de Curitiba. Trata-se, sem dúvida, de um enorme salto qualitativo no planejamento urbano de nossa cidade.

Ainda há, contudo, vozes dissonantes. Muitos motoristas não gostaram da iniciativa, não respeitando as faixas destinadas às bicicletas e impedindo assim o ir e vir dos ciclistas. Essa recepção se dá, a meu ver, porque vivemos em uma sociedade carrocêntrica. Usamos o carro para tudo e naturalizamos este hábito, mas dificilmente voltamos a atenção para os impactos ambientais, espaciais, sociais e econômicos do uso em excesso de automóveis. Restrinjo-me aqui a duas constatações, ambas igualmente preocupantes: um cidadão utilizando seu carro médio emite cerca de 150g de CO² por quilômetro rodado; e, ainda, se todos usarem seus automóveis para o deslocamento diário, a cidade literalmente parará – o que já tem acontecido. Resta claro, portanto, que há de se efetivar políticas públicas que diminuam essa dependência que temos em relação aos carros. O objetivo deve ser a criação, cada vez mais, de obstáculos ao uso cotidiano do automóvel.

Importante ainda é a ressalva de que os ciclistas não se restringem a pedalar do Água Verde ao Centro. O que agora se concretiza na Av. Sete de Setembro deve ser expandido o mais rápido possível para outras regiões da cidade, assim como devem ser tomadas outras medidas, como campanhas para a conscientização dos motoristas (lembrando as proteções ao ciclista que o Código de Trânsito Brasileiro estipulou), o possível uso de tachões ou “tartarugas” para garantir o espaço das faixas dos ciclistas, e a integração da bicicleta com o transporte público – o qual, por sua vez, também carece desde sempre de atenção e investimentos. A bicicleta é só metade da solução de nossa mobilidade urbana. A outra metade está no transporte público, onde também são urgentes mudanças para melhor, a exemplo da recém construída via exclusiva para ônibus na Rua XV de Novembro.

Lucas Prates é acadêmico do quinto ano de Direito da UFPR

O blog agradece pela sua contribuição, Lucas.

No próximo post, cuidarei dos ônibus.

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Twitter: @rodrigokanayama

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