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Hugo Harada/ Gazeta do Povo
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Hugo Harada/ Gazeta do Povo

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Para os nascidos até a década de 1980, a vida com inflação descontrolada está na memória. Alguns tem mais nitidez; outros, menos. Todos lembram, porém, daquela época em que se fazia compras no supermercado no mesmo dia do recebimento do salário, pois em alguns dias aquele salário valeria muito menos.

Há exatos 20 anos era publicada a Medida Provisória 434/94, que instituiu a “Unidade Real de Valor (URV), dotada de curso legal para servir exclusivamente como padrão de valor monetário (…)” (art. 1o), e que preparou a chegada o Real. A URV era uma espécie de “moeda paralela”, mas servia como “padrão de valor monetário”, apenas. A moeda que ainda circulava e possuía poder liberatório (“curso forçado”) era o Cruzeiro Real (CR$).

O padrão monetário URV funcionava como referência para a moeda CR$. Assim, 1 URV valia uma quantidade de CR$, cujo montante variava diariamente, em razão da inflação inercial (que estava acima de 40% ao mês, conforme matéria de O Estado de S. Paulo – “a revolução do real“). Para se ter uma noção da inflação, 1 URV começou, no dia 1o. de março, valendo CR$ 647,50 e, em 1o. de julho, com a nova moeda – o Real –, 1 URV valia CR$ 2.750,00.

Ao contrário dos “planos” anteriores, o governo não utilizou congelamentos ou choques de liquidez, políticas comprovadamente inúteis. Pelo contrário, buscou conter a inércia da inflação, fez com que a população se acostumasse com a estabilidade monetária. Além disso, acabou com as indexações dos contratos, ou seja, com o automático reajuste ou gatilho (“Art. 11, §1o. É nula, de pleno direito e não surtirá nenhum efeito, cláusula de reajuste de valores cuja periodicidade seja inferior a um ano”).

Tinha 16 anos e recordo-me de todo o processo para a emissão da nova moeda. Antes, lembro-me de preços galopantes (o valor das coisas era incerto e confuso), de desabastecimento (filas gigantes para compra de leite, e cada pessoa podia comprar um número limitado de pacotes), de etiquetadores de preços (etiquetas que se acumulavam, uma sobre as outras, nos produtos de supermercado), de supermercados sendo fechados por ordem do governo (preços congelados não poderiam ser majorados).

Realmente, o plano Real trouxe estabilidade e permitiu o desenvolvimento econômico e social que ocorreria nos anos seguintes.  Mesmo com a inflação dos últimos anos superando o centro da meta, nada se compara com o que enfrentamos na década de 80. Torçamos para que nunca mais se repita tamanho desequilíbrio econômico.

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