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ameaça de guerra
O ditador da Venezuela Nicolás Maduro| Foto: EFE/ Rayner Peña R.

A ameaça de guerra de Nicolás Maduro, ditador da Venezuela, contra a Guiana criou um problemão para o governo Lula e para as Forças Armadas na fronteira brasileira em Roraima e expôs o ridículo das pretensões da diplomacia lulopetista de se apresentar como grande promotora da paz mundial. Pois se nem no nosso entorno Lula consegue manter a estabilidade, que dirá em outros continentes?

O Itamaraty está tentando recuperar o prejuízo. Maduro tinha uma viagem marcada para encontrar-se com o ditador russo Vladimir Putin, um de seus maiores aliados externos, esta semana. A visita foi adiada; a diplomacia brasileira fez chegar à imprensa a versão de que isso ocorreu por pressão do governo brasileiro, que considerava o encontro com Putin gasolina no fogo das tensões com a Guiana. Antes de ir a Moscou, o que deve ocorrer ainda neste fim de ano, Maduro deverá se reunir com o presidente da Guiana, Irfaan Ali, na quinta-feira (14), com mediação de Lula.

Se nem no nosso entorno Lula consegue manter a estabilidade, que dirá em outros continentes?

É a chance de Lula de assumir o papel de pacificador. E é, também, um risco para ele — principalmente se repetir erros anteriores de dar o mesmo peso às responsabilidade de agressores e agredidos, como fez quando equiparou os papéis da Rússia e da Ucrânia no conflito que se desenrola no Leste Europeu.

O risco é Lula incluir em suas declarações — em todo ou em parte — os argumentos de Maduro para as tensões com a Guiana. Se Lula já disse que a Venezuela tem excesso de democracia e que o conceito é relativo, tudo para suavizar o regime venezuelano, porque não minimizaria também o papel de Maduro na ameaça de guerra, absorvendo suas justificativas para a intenção de anexar 70% do território do país vizinho?

E quais são essas justificativas? Basicamente, Nicolás Maduro culpa os Estados Unidos por incitar a Guiana contra a Venezuela. O raciocínio tortuoso para chegar a essa surpreendente conclusão está descrito em uma artigo publicado no último dia 5 por Carlos Ron, vice-chanceler para América do Norte, na revista Russia in Global Affairs, com sede em Moscou e mantida por uma fundação que tem o aval do Kremlin. O artigo de Ron traz o título: "As contínuas ameaças políticas e militares contra a justa multipolaridade: uma visão da Venezuela". Ali ele afirma que os Estados Unidos estão vivendo um declínio econômico e que, para enfrentar essa realidade, o país está adotando estratégias, dentre as quais a criação de tensões geopolíticas ao redor do mundo, para evitar a ascensão tecnológica e militar de países como a China e a Rússia.

Ron afirma que os Estados Unidos usam principalmente a questão energética como instrumento para a criação das tais tensões externas, pois, segundo ele, o país continua dependente do petróleo: "É por isso que os Estados Unidos estão interessados em moldar o mercado de energia e o faz através de sanções ilegais contra países como Venezuela, Irã e Rússia". Até mesmo a guerra na Ucrânia, segundo Ron, seria um desdobramento dessa necessidade americana.

A partir daí, o chavista Carlos Ron desenvolve a narrativa de que as tensões com a Guiana são uma construção do governo americano, em conluio com a multinacional do petróleo ExxonMobil. Ele afirma que a empresa, em conjunto com o Departamento de Defesa do governo americano, pressionou a Guiana a lhe conceder a exploração de campos de petróleo marítimos sobre os quais o país supostamente não tem direito. "Criar tensões ao longo da fronteira da Venezuela tem a intenção não apenas de colocar os mãos em novos recursos, mas também de desestabilizar e ameaçar a Venezuela", afirma Ron. Esse é o tipo de argumento que Lula vai escutar de Maduro na reunião marcada para quinta-feira: de que são os Estados Unidos que estão provocando uma ameaça de guerra entre a Guiana e a Venezuela, não o contrário.

Teremos o desgosto de ouvir Lula repetindo esse discurso?

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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