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medo do comunismo
Lula e o ditador Daniel Ortega, em foto de arquivo| Foto: Fernando Bizerra Jr/EFE

A oposição ao governo Lula precisa rever sua agenda se quiser ter alguma chance de evitar a continuidade do PT no poder nas eleições de 2026. O atual foco dos oposicionistas no Congresso Nacional, de explorar o "medo do comunismo", buscando o desgaste de Lula em instâncias como a CPI do MST, lembrando sua amizade com ditadores de esquerda ou realçando as pautas progressistas do partido nos costumes, não tem futuro. Tudo isso tem alguma importância apenas até esbarrar na questão econômica. A direita precisará mostrar que é mais capaz de melhorar a vida das pessoas — e que Lula é um fracasso nesse campo. E é isso que conta.

Sim, os brasileiros têm medo do comunismo, ainda que poucos saibam o que isso significa. Uma nova pesquisa do instituto Datafolha mostra que 52% dos entrevistados concordam que o Brasil corre o risco de se tornar um país comunista. Alheio a essa preocupação do eleitorado, na quinta-feira passada (29), Lula disse em reunião do famigerado Foro de São Paulo, em Brasília, que o conceito de democracia é relativo e que não fica ofendido de ser chamado de comunista.

A direita precisará mostrar que é mais capaz de melhorar a vida das pessoas — e que Lula é um fracasso nesse campo.

Lula fez elogios à Venezuela, a melhor e mais próxima justificativa que a oposição tem à sua disposição para o "medo do comunismo". Com seu "socialismo do século XXI", o chavismo impôs uma hegemonia política, destruiu a produção nacional, empobreceu a população e tornou-a dependente do Estado. Como já falou absurdos semelhantes antes, pelos quais foi duramente criticado, fica claro que Lula não está nem um pouco preocupado com o impacto político-eleitoral que o tal "medo do comunismo" pode ter para ele e para o PT.

Na campanha do ano passado, o ex-presidente Jair Bolsonaro apostou em uma polarização política afetiva (baseada mais na identificação pessoal com o candidato e no ódio aos adversários do que nas diferenças ideológicas entre esquerda e direita), explorando o sentimento antipetista e a memória dos escândalos de corrupção nos primeiros governos do partido. Sem Bolsonaro na próxima corrida presidencial, vai ser mais difícil repetir esse discurso.

Lula é um governante que busca a perpetuação no poder por meio de uma combinação de aliança com a elite econômica capitalista e políticas populistas.

Os nomes que despontam à direita como possíveis adversários de Lula não têm o mesmo apelo emocional junto ao eleitorado. Medo do comunismo e pauta de costumes (aborto, questões de gênero, religiosidade, endurecimento penal, liberação das armas etc.) podem mobilizar o eleitorado já convertido do bolsonarismo e ajudar o candidato que o ex-presidente vier a apoiar. Mas isso não é o bastante, e a oposição precisa começar desde já a buscar uma nova agenda para guiar seus embates com o governo.

Por mais que ande por aí de mãos dadas com ditadores de esquerda e que diga que não se importa de ser chamado de comunista (isso são migalhas para a militância), Lula pode ser melhor definido como um governante que busca a perpetuação no poder por meio de uma combinação de aliança com a elite econômica capitalista e políticas populistas para as classes mais baixas. É o que se vê, por exemplo, no recente subsídio à indústria automobilística para a venda de carros populares, que de populares não têm nada, e na ampliação dos financiamentos do programa Minha Casa Minha Vida para famílias com renda de até 12 mil reais (por trás do declarado benefício à classe média, há o objetivo de ajudar as construtoras a vender o estoque de imóveis encalhados por causa dos juros altos).

A oposição terá que convencer os brasileiros de que estariam muito melhor se uma direita responsável e democrática, sem apetite para aventuras autoritárias.

Trata-se, portanto, de um governo que faz política patrimonialista, permeável aos interesses de poderosos grupos econômicos, os quais beneficia com nossos impostos com vistas a obter resultados eleitorais no futuro.

O que realmente vai fazer diferença nas próximas eleições (como todos sabem, mas nunca é demais lembrar) é o estado da economia. Se os eleitores, em sua maioria, tiverem a percepção de que seu padrão de vida melhorou, ainda que só um pouco, em relação a alguns anos antes, vão votar pela continuidade. Mesmo que o governo atual tenha feito pouco para ajudar.

A tendência de gradual queda na taxa básica de juros vai contribuir para a recuperação. Essa perspectiva já está se refletindo positivamente, por exemplo, na alta na bolsa de valores nas últimas semanas. Também será benéfica a meta contínua de inflação anual a 3%, estabelecida na semana passada, com validade a partir de 2025. Além disso, o forte desempenho do agronegócio vem puxando para cima, ainda que lentamente, as expectativas de crescimento econômico para este e para o próximo ano. Nenhum governante, por mais que se "orgulhe" de ser chamado de comunista para sua claque, seria louco de mexer com essa galinha dos ovos de ouro, a melhor prova gestada no Brasil de que o capitalismo, apesar de suas imperfeições, é melhor que os outros sistemas econômicos já experimentados mundo afora.

A oposição terá que convencer os brasileiros de que estariam muito melhor se uma direita responsável e democrática, sem apetite para aventuras autoritárias e políticas excludentes, estivesse no comando do país em um contexto econômico externo e interno favorável.

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